Nascida em Łódź, a artista Fayga Perla Ostrower (1920-2001), tornou-se conhecida no Brasil, principalmente devido à realização de uma série de ilustrações e capas dos livros de destacados escritores brasileiros. O estilo de Ostrower foi comparado com o expressionismo alemão. Em 1951, ela adotou a cidadania brasileira, e seus trabalhos começaram a ser mais frequentemente expostos em museus no Brasil e no exterior. Inspirada pelo cubismo e pela arte abstrata (principalmente pelo trabalho de Paul Cezanne), a pintora polonesa começou a afastar-se da arte figurativa e socialmente envolvida. Ostrower recebeu vários prêmios, entre os quais os mais importantes são: Grande Prêmio Nacional de Gravura da Bienal de São Paulo (1957), o Prêmio Internacional da XXIX Bienal de Veneza (1958), o Prêmio da Bienal de Florença, Buenos Aires e México.
Conhecido não só por sua atividade artística, mas também pelo fato de proteger o meio ambiente, Frans Krajcberg é outro artista de origem polonesa – escultor, pintor e fotógrafo que nasceu em 1921, em Kozienice. Em 1957, recebeu cidadania brasileira e ganhou o título de melhor pintor nacional na Bienal de São Paulo. Em 1970, ganhou reconhecimento internacional por suas esculturas de árvores queimadas. Seu trabalho expressa preocupação com o destino do meio ambiente no Brasil e no mundo. Segundo o crítico de arte Agnaldo Farias: "Seu trabalho tem uma dimensão ética que vai além da arte: está ligado ao mundo sem ser panfletário e literal". Enquanto o próprio artista repete frequentemente:
"A situação do planeta é grave. A natureza é vingativa e nós a machucamos demais. Não podemos continuar passivos".
Nascido em Curitiba, em 1943, em uma família de imigrantes poloneses, João Urban desde os primeiros anos de experiência em fotografia, atenta-se às questões sociais. Tem participado de várias exposições no Brasil e exterior. Os sujeitos da sua série fotográfica mais famosa são a vida cotidiana e o trabalho dos bóias-frias e representantes de imigração polonesa no estado do Paraná. Urban é autor de muitos álbuns de fotografias, entre outros: "Bóias-frias", "Tropeiros", "Tu i tam: Memórias da imigração polonesa", "Mar e Mata: a serra, a floresta e a baía. Seus homens e suas mulheres".
Cinema e TV
Andrzej Bukowiński, um dos diretores de comerciais mais premiados, nasceu em 1940, em Varsóvia. Com seis anos de idade emigrou com sua família da Polônia para a Inglaterra. Três anos depois, a família mudou-se para Rosario, na Argentina. No início dos anos sessenta Bukowiński começou sua carreira como diretor de filmes publicitários. Agora, tendo feito mais de três mil filmes, é considerado um dos pioneiros desta indústria. Em 1973, mudou-se para o Brasil, onde fundou a empresa de produção ABAFILMES. Atualmente vive e trabalha em São Paulo.
Filme publicitário "Hitler", dir. Andrzej Bukowiński.
Bukowiński ganhou prestigiados prêmios internacionais. No ano de 1964, aos 24 anos, recebeu o primeiro prêmio no Festival Internacional de Publicidade de Veneza (agora o próprio festival acontece em Cannes). É o único diretor no mundo que ganhou três Leões de Ouro consecutivos no Festival Internacional de Publicidade de Cannes SAWA. Ganhou um total de vinte e cinco leões em festivais internacionais em Cannes e Veneza (1964-1997). Foi sete vezes o vencedor do "Profissionais do Ano", concedido pela TV Globo. Dirigido por Bukowiński o filme publicitário "Hitler" (publicidade do jornal "Folha de São Paulo") foi inserido na lista "One of 40 World's Best Commercials of the Century".
Krzysztof Kamyszew, diretor do festival Polish Film Festival in America, de Chicago, nos Estados Unidos, no qual em 2003 foi concedido a Bukowiński o prêmio principal – o Wings, opina:
"As peças publicitárias dirigidas por Andrzej Bukowiński são pequenas obras-primas da arte do filme, são metáforas fílmicas do mais alto nível. Ele produziu tal número delas, que isso tem de despertar assombro por sua criatividade e consequência artística. Chamar os filmes de Andrzej de publicitários é de certo modo algo de convencionado. Eles são ao mesmo tempo filmes publicitários e expressão da filosofia artística e existencial de seu criador. Portanto, são filmes publicitários, mas não são apenas filmes publicitários. São admiráveis sua universalidade e atemporalidade. Pode-se exibi-los hoje de novo e funcionariam com sucesso e efeito igualmente poderoso. No gênero dos comerciais Andrzej é um mestre insuperável"(trad. Marcelo Paiva de Souza).
No mundo de filme brasileiro também ganhou destaque Stanisław Rzepecki (1913-1993), que durante a Segunda Guerra Mundial, esteve como prisioneiro nos campos de concentração nazistas. Em 1943, ele conseguiu escapar e chegar a Inglaterra. Um ano depois, matriculou-se em um curso de cinema no estúdio Denham, em Londres, onde encantou-se pela função de maquiador. Rzepecki trabalhou com estrelas como Lilli Palmer, James Mason e Vivien Leigh. Pouco depois da guerra, ele conheceu na Inglaterra, o embaixador do Brasil, renomado diretor de teatro e crítico, Paschoal Carlos Magno. Graças a ele decidiu viajar para o Brasil, onde adotou o pseudônimo de Eric Rzepecki. No Brasil, trabalhou como um maquiador nos maiores estúdios de cinema no Brasil, como Cinédia, Atlântida e Vera Cruz e as principais emissora de televisão: TV Rio, TV Excelsior e TV Tupi. Desde 1978, ele foi chefe do departamento de maquiagem da Globo. Trabalhou com as maiores estrelas do cinema e da televisão brasileira: Sônia Braga, Regina Duarte e Fernanda Montenegro. No início dos anos oitenta lançou sua própria linha de produtos cosméticos.
Literatura
Os escritores mais famosos de origem polonesa no Brasil são: Paulo Leminski, Samuel Rawet, Alfredo Syrkis e Letícia Wierzchowski.
Paulo Leminski (1944-1989), cujo avô veio da Polônia, era um escritor (autor de textos em prosa experimentais, incluindo "Catatau" e "Agora é que são elas"), poeta (autor de vários volumes de poesia, recentemente disponíveis também em polonês em tradução de Piotr Kilanowski), biógrafo, tradutor (traduziu para o português alguns livros de Alfred Jarry, James Joyce, Samuel Beckett, bem como alguns poemas de Vladimir Mayakovsky e Adam Mickiewicz) e letrista. Em suas obras, várias vezes podem ser encontradas referências ao seu país de origem. Um dos heróis de sua mais famosa prosa experimental "Catatau" (1975), que desafia qualquer classificação em termos de gênero, é um capitão polonês do século XVII a serviço dos holandeses Krzysztof Arciszewski. Lemniski traduziu também o famoso poema de Adam Mickiewicz:
Choveram-me lágrimas limpas, ininterruptas,
Na minha infância campestre, celeste,
Na mocidade de alturas e loucuras,
Na minha idade adulta, idade de desdita;
Choveram-me lágrimas limpas, ininterruptas...
(Paulo Leminski, 1979)
De origem polonesa também foram o engenheiro Samuel Rawet (Klimontow 1929 - Brasília, 1984), autor de coleção de contos "Contos do Imigrante" (1956), "Diálogo" (1963), "Os sete sonhos" (1968), "Eu, tu e ele" (1972), "Que os Mortos enterrem seus Mortos" (1981) e Alfredo Syrkis (1950), político e jornalista, autor de "Os carbonários" (pelo qual foi premiado com o Jabuti em 1981), "Roleta chilena" (1981) e "Corredor polonês" (1983). Seus livros ainda não foram traduzidos para o polonês. Nascida em 1972, em Porto Alegre, Letícia Wierzchowski, autora de vários livros dentre os quais alguns tocam a questão da imigração polonesa no Brasil ("Cristal polonês", 2003, "Uma Ponte para Terebin", 2005), também é neta de um imigrante polonês. O seu romance "A Casa das Sete Mulheres" (2002), foi a base e a referência para a composição da novela realizado pela TV Globo, e que lhe trouxe notoriedade no Brasil.
Julian Tuwim (1894-1953) descreveu sua estadia no Rio de Janeiro, no início dos anos quarenta do século passado, em um dos fragmentos de "Flores polonesas":
Hoje no Rio o dia chuvoso polonês
e as nuvens polonesas cobrem o céu.
Feito o navio-fantasma, navio-sombra
hoje Łódź desembarcou no Rio.
Como sempre, a chuva me leva
a passear… pela Avenida? Não.
Nas ruas Krótka e Nawrot. Depois,
cem vezes de ida e volta
(…)
My country is my home. Minha Pátria,
e os outros países são hotéis.
Durante a Segunda Guerra Mundial junto com Tuwim no Rio de Janeiro estiveram também outros artistas, principalmente escritores e poetas, poloneses: Kazimierz Wierzyński, Jan Lechoń, Michał Choromański e o cantor, Jan Kiepura.
O local de suas reuniões frequentes foi o Café O'Key na Avenida Atlântica. O poeta polonês, Jan Lechoń, também dedicou um de seus poemas à cidade maravilhosa:
A natureza ficou no zênite como o Sol,
A Terra, o céu e o mar cantam um hino.
O magnífico oceano feito um tapete de espuma prata,
Brilhando no azul, enrola-se e desenrola.
Entre as flores como árvores, entre as aves como flores
Flutua um misterioso e riquíssimo véu de aromas,
No ar pairou o enxame de borboletas coloridas.
Você então levanta os olhos saudosos
Vendo o céu de verdade, sem uma nuvem,
E, nesse instante, esquece de todo o sofrimento.
E no fim do dia, quando a cortina da noite desce
Você vê, de repente, braços abertos enormes,
Abençoando do céu com os raios de prata,
Esta terra maravilhosa como um fogo encantado,
Esta cidade fantástica, e os navios fantasmas
Que levam homens tristes expulsos da sua terra.
(trad. Henryk Siewierski)
Traduções de literatura polonesa para o português
A literatura polonesa é conhecida aos leitores brasileiros por meio de traduções realizadas por um pequeno grupo de tradutores. Alguns deles trabalham nos principais centros acadêmicos brasileiros em Curitiba e Brasília, onde existem centros de estudos poloneses.
Henryk Siewierski, nascido em Wrocław, professor de longa data na Universidade Jaguelônica em Cracóvia, desde 1986 mora no Brasil onde é professor no Departamento de Teoria da Literatura da Universidade de Brasília – UnB. Publicou, entre outros, o livro "Spotkanie narodów", "História da Literatura Polonesa", "Raj do utracenia: amazońskie silva rerum" e dois volumes de poesia em português. Traduziu as obras de Cyprian Kamil Norwid, Bronisław Geremek, Czesław Miłosz, Andrzej Szczypiorski, Tomek Tryzna, Leszek Kołakowski, e uma coletânea de poesia polonesa. Em 2012, a editora Cosac Naify publicou "Ficção completa" de Bruno Schulz em sua tradução.
"A importância da editora, uma das mais prestigiosas no Brasil, contribuiu talvez para o fato de que o livro tenha tido uma boa recepção. Comentários extensos em revistas e suplementos literários dos principais jornais e a quantidade de entrevistas que me pediram, é uma das provas desta recepção. Chamam-me a atenção as reações e depoimentos de leitores, com os quais me encontro muitas vezes, e que falam de sua fascinação pela prosa de Schulz. Para um tradutor não existe uma recompensa maior que essa" – diz o prof. Siewierski.
Marcelo Paiva de Souza é professor na cátedra de letras polonesas na Universidade Federal do Paraná – UFPR, em Curitiba, autor de um livro publicado na Polônia "Teatr niepokoju. Studium porównawcze dramaturgii Stanisława Ignacego Witkiewicza i Oswalda de Andrade". Traduziu para português, entre outros, "A Viagem" de Ida Fink, "Ivone, Princesa da Borgonha", de Witold Gombrowicz, "Branco neve, vermelho Rússia" de Dorota Masłowska, e "O testemunho da poesia: seis conferências sobre as aflições de nosso século", de Czesław Miłosz.
Tomasz Barciński foi um dos tradutores mais prolíficos da literatura polonesa. Nasceu em 1936 em Varsóvia, com a idade de onze anos emigrou com seus pais para o Brasil, onde terminou seus estudos na Escola Nacional de Engenharia. Até sua aposentadoria, trabalhou como engenheiro na indústria do tabaco e fabricação de cerveja, e depois da carreira profissional dedicou-se à sua nova paixão. Traduziu, dentre outros, vários livros de Ryszard Kapuściński, Henryk Sienkiewicz, Witold Gombrowicz, Mirosław Bujko, Rutka Laskier, Andrzej Sapkowski, Paweł Huelle, Tadeusz Dołęga-Mostowicz, Olga Tokarczuk e Władysław Szpilman.
Regina Przybycien nasceu em 1949 em Curitiba, numa família de imigrantes poloneses. Trabalhou como professora de literatura americana e comparativa na Universidade de Ouro Preto e na UFPR em Curitiba. No período 2009-2015, lecionou literatura brasileira na Universidade Jaguelônica em Cracóvia. É tradutora de poemas de Wisława Szymborska. O livro de poemas da poetisa polonesa, ganhadora do Prémio Nobel, foi lançado no Brasil pela editora Companhia das Letras:
"Deparei pela primeira vez com a poesia de Szymborska quando ela ganhou o Prêmio Nobel em 1996 – conta Regina Przybycien. – Eu fazia um curso intensivo de polonês para estrangeiros no Instytut Polonijny da Uniwersytet Jagiellońki. Era a primeira vez que eu retomava o contato com a língua polonesa, a língua da minha infância, depois de 40 anos, porque aos seis anos deixei de falar polonês. Como muitos filhos de imigrantes da primeira geração, não queria me diferenciar das outras crianças. Queria ser inteiramente brasileira. A linguagem do cotidiano, das coisas concretas, me era próxima, mas tinha dificuldade em aprender a linguagem intelectual, das abstrações, que me parecia fria, sem alma. As professoras do curso apresentaram-nos alguns poemas de Szymborska e reconheci neles sons familiares que me encantaram. [...] Em português chamamos a língua pátria de “língua materna”, a língua da mãe, o que expressa melhor do que “język ojczysty” a língua na qual sentimos e sonhamos. O polonês é a língua lúdica de minha infância, cujos sons me embalaram no berço e me encantaram nas histórias de baba jaga. Szymborska trouxe-me ecos desses sons lúdicos da infância, na sua poesia combinados com jogos linguísticos sofisticados. Traduzi-la foi um exercício de tentar reproduzir na língua portuguesa essa combinação de sofisticação intelectual e tom coloquial".
Cátedra de letras polonesas na Universidade Federal do Paraná
Um papel importante na divulgação da cultura e literatura polonesa está sendo desempenhado pela cátedra de letras polonesas na Universidade Federal do Paraná, UFPR. Alguns de seus primeiros graduados já começaram a dar os primeiros passos na profissão como tradutores e professores de língua polonesa.
Embora a UFPR tenha mais de cem anos de existência, sendo a universidade mais antiga do Brasil, a primeira admissão de estudantes em estudos poloneses só ocorreu em 2008. Este ano foi especial para os poloneses no Brasil, pois foi o ano de comemoração de 140 anos do início da imigração polonesa no país.
"Dado o ineditismo da nossa polonística (no Brasil e, até onde sei, em toda a América Latina, não há outra instituição que ofereça graduação em língua e literatura polonesa), penso que temos um papel estratégico em termos de divulgação das letras polonesas no universo acadêmico (não só na área de letras, mas na de ciências humanas como um todo) e na cultura brasileira em geral" – diz o Prof. Dr Marcelo Paiva de Souza.
Na sua opinião, entre a motivação do estudante prevalece por ora, em termos estatísticos, o vínculo da polonidade, da ascendência familiar, uma espécie de busca/redescoberta das raízes identitárias.
Autora: Aleksandra Pluta
Bibliografia:
MALCZEWSKI, Z. Diciónario biográfico da Comunidade Polônica no Brasil, Varsóvia: Centro de Estudos Latino-Americanos, Universidade de Varsóvia, 2000.
MAZUREK, J. (org.), Os poloneses sob o Cruzeiro do Sul, Varsóvia: Instituto de Estudos Ibéricos e Ibero-americanos da Universidade de Varsóvia e Museu da História do Movimento Popular Polonês em Varsóvia, 2009.
SIEWIERSKI, H. Os poloneses nos 500 anos do Brasil. In: Paulo Reis (org.), República das etnias, Rio de Janeiro: Gryphus, Museu da República, 2000.
Visite o site Culture.pl/brasil para obter informações sobre os mais interessantes eventos da cultura polonesa que ocorrem no Brasil, e ter acesso a uma grande quantidade de biografias, resenhas e artigos.