Era filho de Marian Ziembiński e Leonia, nascida Cyfrowicz, marido de Maria, nascida Próżyńska, pai do ator e encenador Krzysztof Ziembiński. Pertencia a uma família tipicamente burguesa.
"Meus anos da juventude não foram nada além de um grande drama burguês dividido em atos. " – recordava, anos mais tarde, em gravações deixadas para seus futuros biógrafos. “Estava e sou vidrado pelo drama burguês, obcecado pelo drama burguês, porque eu o vivi na minha própria carne”.
[MICHALSKI, Yan. "Ziembinski e o Teatro Brasileiro". Hucitec: Rio de Janeiro, 1995 (adendo à biografia: transcrição das gravações dos monólogos noturnos de Ziembinski)]
O ambiente da casa familiar com certeza influiu posteriormente na criação artística de Ziembiński, quem, já aos onze anos, quando morreu seu pai, começou a ficar independente e a descobrir suas paixões. Aos 12, como aluno da escola secundária em Wieliczka, atuou num pequeno papel na encenação da II parte de "Dziady" (Os antepassados). Era o personagem Józio, que não havia experimentado sofrimento e que, por isto, não podia atingir o céu. Após voltar da escola, dirigiu-se à sua mãe e disse: "Mamãe, vou ser um ator".
Início da carreira na Polônia
Depois de concluir o ensino médio, Ziembiński começou a estudar literatura na Universidade Jaguelônica, fazendo-o apenas para satisfazer a vontade da sua mãe porque o que realmente lhe interessava era o teatro. Queria iniciar a carreira de ator prontamente. Já na temporada 1927/28, começou a atuar no palco do Teatro Juliusz Słowacki, em Cracóvia. Sua estreia (sem contar a atuação em peças escolares) foi no papel de Zakrystian Leuthier, na encenação "Proboszcz wśród bogaczy" (O pároco entre os ricos), cuja primeira apresentação se deu em 29 de agosto de 1927. Tinha dezenove anos na época. Aleksander Zelwerowicz, após assistir à peça "Simone", de Deval, para a qual Ziembiński recebera o papel principal, convidou-o para seu teatro novo em Vilnius. Das gravações - deixadas por Ziembiński no Brasil -sabemos que, depois das duas primeiras peças, Zelwerowicz lhe perguntou se não queria enfrentar o desafio de ser encenador. O jovem ator consentiu e dirigiu a peça de Fernand Crommelynck, "O escultor de máscaras", com estreia em 1 de outubro de 1929. Pouco tempo depois, Zelwerowicz solicitou-lhe que fosse a Varsóvia prestar exame para encenador, na condição de estudante não matriculado. Em 16 de dezembro de 1929, Ziembiński compareceu ante a comissão examinadora da Associação de Artistas dos Palcos Poloneses, foi aprovado com a nota máxima e se tornou o encenador mais jovem da Polônia. A atriz Hanna Małkowska recorda:
"Aquele jovem rapaz que saltou direto da universidade para o palco do Teatro Słowacki nunca foi ‘iniciante’, tornou-se de imediato um ator completo. Causava admiração sua dicção fenomenal, pois, com incrível precisão articulatória, conseguia falar na velocidade de uma metralhadora. Além disso, prontamente começou como diretor. Zelwerowicz confiou-lhe a realização de algumas peças, e Ziembiński saiu-se muito bem; depois de uma temporada de estágio, foi aprovado summa cum laude no exame de direção e imediatamente contratado por Szyfman para o Teatr Polski como o mais jovem diretor da Polônia".
[MAŁKOWSKA, Hanna. "Teatr mojego życia" (O teatro da minha vida). Wydawnictwo Łódzkie: Łódź, 1976]
Na temporada de 1930/31, Ziembiński trabalhava nos teatros Polski e Mały, em Varsóvia. Todavia, neles não permaneceu neles por muito tempo. Já na temporada seguinte, foi convidado pelo encenador Karol Borowski para trabalhar em Łódź. A partir de 1932, tornou-se novamente ator e diretor de teatros da municipalidade de Varsóvia (1932/33-1933/34). Em seguida, atuou, como visitante, no Teatr Nowy de Poznań, enquanto nas três temporadas seguintes, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, retornou aos teatros Polski e Mały. Entre seus melhores papéis figuram o Poeta ("Wesele" [O casamento] de Wyspiański) - galardoado num concurso de peças de Wyspiański - (1932), Chopin ("Lato w Nohant" [Verão em Nohant] de Jarosław Iwaszkiewicz), Juiz do Tribunal ("Genebra", de Shaw), Zbigniew ("Mazepa", de Juliusz Słowacki), Khlestakóv ("O Inspetor Geral", de Gogol), Stanisław Potocki ("Noc listopadowa" [Noite de novembro] de Stanisław Wyspiański), Fred ("Pigmalião", de Shaw).
Contudo, em sua biografia artística, prevalecem peças de um estilo um pouco menos sério, tais como farsas, comédias, dramas burgueses. Entre seus trabalhos de encenador mais famosos estão "Henrique IV", de Pirandello (1934), "Stare wino" (Vinho envelhecido) (1935), "Zwycięska płeć" (Gênero vitorioso) (1936), "Jadzia wdowa" (Jadzia, a viúva) (1937), "The importance of being Earnest” (1939) e a última peça realizada na Polônia, com estreia justo antes da eclosão da guerra, "Genebra", de G. B. Shaw. Trata-se de uma comédia de caráter político na qual são zombados os principais personagens da cena política mundial: Hitler, Mussolini e o general Franco. O espetáculo foi encenado ainda nos primeiros dias de setembro de 1939, ao ruído das bombas caindo sobre Varsóvia.
Peripécias dos tempos da guerra
Nas primeiras semanas da guerra, Ziembiński acabou na Romênia. Numa entrevista concedida à instituição brasileira SNT, recorda aqueles acontecimentos desta forma:
"Aí, eu deixei Varsóvia. Atravessei a Polônia toda, pensando que aquilo era temporário, que duraria duas ou três semanas. Fomos recuando, recuando, até perto da Rússia. O único ponto de saída era pela Romênia. Fugi para lá, onde passei quatro meses, fazendo teatro para os refugiados poloneses.”
A Companhia de Artistas dos Teatros de Varsóvia, depois conhecida como Teatro Polonês na França, ou chamada popularmente de Companhia de Ziembiński, começou sua atividade com a estreia da peça "Uciekła mi przepióreczka" (Fugiu-me uma codornizinha), de Stefan Żeromski, em 17 de novembro de 1939. Irena Eichlerówna também participava da peça. Depois de uma apresentação solene e uma segunda encenação em Bucareste, a companhia visitou várias cidades romenas. A mesma peça foi selecionada depois pelo Conselho Teatral francês e representada, em 10 de fevereiro de 1940, no Théâtre Antoine, no Boulevard de Strasbourg em Paris. Na França, ela também foi recebida positivamente, o que pode ser comprovado pelas resenhas favoráveis tanto da imprensa francesa como da diáspora polonesa. Após o reconhecimento francês, Ziembiński conseguiu obter o visto brasileiro. Entretanto, ao abandonar a França, em 4 de janeiro de 1941, não tinha a intenção de ficar e trabalhar no Brasil. Anteriormente, havia sido convidado para atuar como diretor num grupo teatral amador de Nova Iorque, porém, a obtenção de visto para os EUA era, na época, muito mais difícil. Ziembiński partiu então numa longa travessia marítima, com a esperança de ser mais fácil chegar à Nova York do que ao Rio de Janeiro. Em 6 de julho de 1941, após uma viagem de meio ano, seu navio atracou nesta cidade brasileira. Ziembiński contava trinta e três anos, não tinha dinheiro e não falava português.
Êxitos teatrais no Brasil
"Quando chegamos aqui no Rio, vendo as pessoas descerem, só para experimentar alguma sensação de liberdade, desci e subi de novo ao navio. Nada aconteceu, mas tinha acontecido tudo. Eu podia descer sossegado em algum lugar. Viver com dignidade em algum lugar. E foi pensando assim que cheguei ao Rio de Janeiro." – recordava no depoimento concedido ao SNT.
Em pouco tempo, fez contatos com a sociedade teatral e conheceu os membros da companhia amadora de teatro Os Comediantes. Trabalhou na iluminação da peça "Assim é, se lhe parece", de Pirandello, e encenou "Vestido de noiva", do jovem jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. Esta apresentação tornou-se um momento decisivo na história do teatro brasileiro. Sua estreia ocorreu em 28 de dezembro de 194, no Teatro Municipal no Rio de Janeiro. "Vestido de noiva" provavelmente não teria alcançado tanto êxito se não tivesse juntado três elementos e três pessoas: texto, cenografia e direção – autor, cenógrafo e diretor. O encontro daquelas exímias pessoas, Nelson Rodrigues, Tomás Santa Rosa e Zbigniew Ziembiński, contribuiu para a criação de uma obra que revolucionou o teatro brasileiro.