Sua família do lado paterno vinha da Polônia. Devido às raízes africanas da mãe, se autodenominava "polaco mulato de Curitiba". Aos dezenove anos, participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte, onde graças à idade tenra e ao talento, foi apelidado de "Rimbaud curitibano". Aliás, o número de apelidos pitorescos que acumulou ao longo dos anos era bastante grande. Foi chamado também de "polilingue paroquiano cósmico" (era poliglota), "samurai malandro" (era faixa preta de judô), "caboclo polaco-paranaense", "o bandido que sabia latim" e "Polaco Loco Paca".
Em Belo Horizonte, Leminski estabeleceu um contato com os principais representantes brasileiros da poesia concreta, como Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos, entre outros. Foram estes três poetas que no começo dos anos cinquenta tinham criado o grupo Noigandres, que iniciara o movimento de poesia concreta no Brasil (o manifesto do grupo fora publicado em 1954, sob o título "Plano-Piloto para Poesia Concreta"). Um ano depois, Leminski estreou na revista "Invenção", com cinco poemas não subordinados a quaisquer associações semânticas nem sintáticas.
Poeta, escritor, tradutor, compositor…
Trabalhava como professor de história em cursos preparativos para alunos do ensino médio, bem como diretor de criação e autor de conteúdos numa agência de publicidade. Ao mesmo tempo, publicava poemas em várias revistas locais e muitos livros de poesia, desde há pouco disponíveis na tradução para o polonês; também fazia um pouco de crítica literária – resenhava principalmente as obras de autores brasileiros contemporâneos para revistas, tais como "Veja" e "Folha de São Paulo". Além de poesia, também escrevia textos experimentais em prosa ("Catatau" e "Agora é que são elas", entre outros) e biografias (de Jesus Cristo, Lev Trotsky, Cruz e Souza e do poeta japonês Bashō). Segundo algumas fontes, ele falava seis idiomas estrangeiros, mas segundo outras – dez. Traduziu para o português os livros de Yukio Mishima, Alfred Jarry, James Joyce, Petrônio, Samuel Beckett, John Lennon, bem como alguns poemas de Maiakovski e Mickiewicz.
Era também compositor e letrista para vários cantores e músicos famosos (suas letras foram cantadas pelas estrelas da MPB: Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Ney Matogrosso, Arnaldo Antunes). Teve três filhos e duas esposas, entre elas, a poetisa Alice Ruiz.
Paulo Leminski começou sua aventura com a poesia como poeta concretista, depois se aproximou ideologicamente do grupo de ”poetas marginais” (com poemas mimeografados e distribuídos nas ruas). Passou por uma fascinação pelo tropicalismo, pela obra dos beatniks e pelo haiku japonês, cuja influência está claramente visível em suas criações. Nos últimos anos, perdeu o estigma de ”poeta maldito” e entrou firmemente no cânone da literatura brasileira, se tornando um objeto de adoração em massa e da moda da cultura pop.
Motivos poloneses na obra
Em sua obra, Leminski frequentemente fazia alusões aos motivos poloneses. Um protagonista de seu experimento em prosa mais famoso, "Catatau" (1975), que foge da classificação por gêneros literários, é o polonês Krzysztof Arciszewski, general de artilharia que foi recrutado pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Chegou no Brasil junto com a expedição enviada para lutar com Espanha e Portugal. Este personagem histórico serviu a Leminski como inspiração para criar um romance satírico-filosófico subversivo, cujo herói principal, Descartes (ou seja, Renatus Cartesius), tenta entender o Brasil. Sob influência do clima tropical e de uma erva que fumara, Descartes se dedica a reflexões delíricas esperando Arciszewski, que aparece justamente no fim deste experimento literário, completamente bêbado.
Na obra poética de Leminski, também é possível encontrar referências à pátria de seus antepassados. Traduziu para o português o poema de Mickiewicz "Choveram-me lágrimas" (Polały się łzy). Além disso, na escolha de textos para traduzir, sempre seguia seu próprio gosto. Traduzindo Joyce ou Yukio Mishima, se entregava a seus fascínios literários e, como consequência, usufruía de suas obras criando textos próprios. Em "Catatau", é possível encontrar referências claras não apenas a Joyce, mas também a Jorge Luis Borges, Denis Diderot ("Jacques, o fatalista e seu mestre"), ou François Rabelais ("Pantagruel e Gargântua").
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meu coração de polaco voltou
coração que meu avô
trouxe de longe pra mim
um coração esmagado
um coração pisoteado
um coração de poeta
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O pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique.
Autora: Aleksandra Pluta, abril de 2015, tradução para o português: Marek Cichy
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