"Na solidão dos campos de algodão" é uma peça íntima sobre o amor e a força do diálogo. Seus protagonistas são um traficante (Wojciech Niemczyk) e seu cliente (Tomasz Nosiński) que se encontram num beco escuro, na periferia da cidade. Os dois homens mergulham numa conversa cheia de alusões sobre o que um deles pode oferecer ao outro. – Dizem mil palavras que parecem um álibi para que possam se encontrar – explicou o encenador, antes da estreia da peça em Kielce em setembro de 2009.
O espetáculo tem um caráter experimental. Os atores são acompanhados por videoprojeções de Marta Stoces e pela música de boate no estilo trans, tocada ao vivo pela banda Natural Born Chillers. O encenador descreveu sua peça como "teatro histérico".
"Minha intenção é utilizar amplitudes sempre que possível; de estados intermediários ou estado zero ao estado de alto risco para os atores."
Segundo Joanna Targoń, resenhista da "Gazeta Wyborcza", Rychcik traduziu a língua de Koltès num show selvagem e condensado, com uma hora de duração.
"Os atores - Wojciech Niemczyk (o Dealer) e Tomasz Nosiński (o Cliente) – são os solistas deste show. Em ternos pretos idênticos, de pé, um ao lado do outro, com os microfones à frente. Este diálogo decorre quase sem contato visual – o contato com os espectadores se torna muito mais importante. Cada um dos atores vende si próprio: suas palavras, sua figura, seu corpo dançando de maneira selvagem, seu esforço. O deal, cujo objetivo não está muito claro segundo Koltès, ou é até abstrato, aqui ganha corpo (literalmente), pois surge uma tensão sexual entre o Cliente e o Dealer. Mas Rychcik não quer explicar o encontro entre o Cliente e o Dealer com a ânsia de satisfazer desejos carnais. Estas surgem como um componente inseparável de cada contato pessoal."
O esforço e o talento dos atores foi elogiado também por Beata Frysztacka que, depois das exibições especiais do espetáculo dentro do festival Boska Komedia em Kraków, escreveu que eles se auto-imolam numa sessão de uma hora e meia de transe, emoções e texto comovente.
"Niemczyk e Nosiński estão um ao lado do outro em pé no palco. À frente deles – microfones. Atrás deles, a banda Natural Born Chillers com os seus instrumentos. Guitarra, bateria, teclado, computador. O texto de Koltes é gritado em direção à plateia, ainda que as palavras pronunciadas sejam um diálogo - a conversa de dois homens que querem fechar um negócio. Eles se comportam de maneira violenta e provocante, até agressiva. Mesmo assim, a interação entre eles não ocorre. Será que o objeto da negociação é a venda de drogas, um serviço erótico ou uma simples necessidade humana de proximidade? Não vamos receber uma resposta inequívoca."
O espetáculo também recebeu uma versão televisiva, preparada em conjunto pela TVP Kultura e TVP Kielce. Wojciech Majcherek, diretor da redação de Teatro e Literatura da TVP justificava:
“Na solidão dos campos de algodão" é especialmente interessante, porque este espetáculo é um exemplo da nova estética do teatro, tão fortemente presente nas obras dos diretores da geração mais jovem. Vale a pena conhecê-lo, ainda que ele possa gerar resistência. "