Em depoimento à Agência de Informação Polonesa, um dos curadores da exposição e diretor do Muzeum Sztuki w Łodzi (Museu de Arte em Łódź), Jarosław Suchan, realçou que a exibição brasileira tinha por objetivo evidenciar o caráter transgressivo e interdisciplinar da arte kantoriana. Apontou que, embora Kantor não fosse desconhecido na América Latina, tem sido considerado, inclusive na atualidade, mais como um homem de teatro. Artistas e teatrólogos sublinham que Kantor foi um artista com influência essencial no desenvolvimento do teatro brasileiro. A exposição intitulada "Máquina Tadeusz Kantor. Teatro + happenings + performances + pinturas + outros modos de produção" tem por objetivo apresentar a arte e o seu autor numa perspetiva ampliada, introduzindo suas facetas de pintor, cenógrafo, happener e teórico da arte.
"A obra de Kantor no domínio do teatro está intrinsicamente ligada a outras áreas das suas buscas artísticas. Foram de grande importância para o seu teatro as experiências advindas das artes visuais "- explicou Suchan.
100. rocznica urodzin Tadeusza Kantora from Culture.pl on Vimeo.
Em uma das unidades do Sesc, importante instituição de cultura, lazer e educação do Brasil, foi edificada uma estrutura arquitetônica especial onde se exibiu, no âmbito da exposição, o mundo kantoriano, criado a partir das ideias e dos manifestos do artista. A exibição também mostrou pinturas, desenhos, projetos, instalações e diferentes objetos, assim como filmes documentários, gravações de espetáculos e rica documentação referente a intervenções artísticas. A maioria das obras foi alugada do acervo do Muzeum Sztuki w Łodzi (Museu de Arte em Łódź) e da Cricoteca (centro kantoriano em Cracóvia - N. do T.). Os curadores da exposição foram Ricardo Muniz Fernandes, sociólogo, editor e produtor cultural de São Paulo e Jarosław Suchan, historiador da arte e diretor do Muzeum Sztuki w Łodzi.
Como escreve o curador Ricardo Muniz Fernandes "a exposição não é uma retrospetiva, mas sim um mecanismo em funcionamento, não é uma mera representação, mas compreende a reinvenção do que é vivo e vivido para Kantor e seus contemporâneos. É um espaço em processo. "Máquina Kantor" são várias máquinas ligadas a milhares de outras máquinas, num fluxo contínuo".
A exposição teve início com a apresentação da Máquina Aneantisadora que, segundo a concepção dos curadores, é uma metáfora do conjunto da obra de Kantor. O espaço seguinte foi preenchido com vários documentários a respeito da obra e da vida do artista. O seu cenário referia-se à famosa Anti-exposição, aberta na Galeria Krzysztofory de Cracóvia em 1963, que, recusando a disciplina cronológica, jogava com o caos, deixando para o espectador a tarefa de reconstituir o retrato do artista por conta própria.
Na sala principal foram apresentados objetos cênicos, originais e refeitos, que acabaram compondo uma visão geral do trabalho criativo de Kantor. Encontravam-se ali, entre outros, a cadeira do espetáculo "Niech szczezną artyści" (Que morram os artistas), de 1985; o guarda-roupa de "Nadobnisie i koczkodany" (Formas delicadas e macacos peludos), de 1973; as recriações dos elfos e da ninfa Goplana de "Balladyna", de 1943. Junto com estes artefatos foi apresentado um fragmento do filme de Dietrich Mahlow "Kantor ist da”, de 1969, que traz o registro da performance "Die Grosse Emballage". Ele constitui uma síntese da exposição, ressaltando o sentido profundo, histórico e filosófico, da obra do artista e suas referências ao maior horror do século XX, o Holocausto.
As demais salas, em número de sete, como escreveu Jarosław Suchan, eram sete capítulos que, introduzidos conforme os manifestos do artista, iam iluminando, sucessivamente, as realizações da MÁQUINA KANTOR. Os objetos ali apresentados foram instalados nas seguintes seções: A realidade intensificada, Informel-Infernum, Os arredores do zero, Embalagens, Happenings, O impossível e, a mais ampla, Clichê da memória.
No Brasil o interesse por Tadeusz Kantor vai crescendo continuamente, porém, com frequência, fica limitado ao seu trabalho teatral ou às reflexões teóricas dos teatrólogos. Foram ou estão sendo realizados vários ensaios acadêmicos acerca do artista, como, por exemplo, a tese de doutorado de Wagner Cintra, cujo título instigante é "No limiar do desconhecido. Reflexões sobre o objeto no teatro de Tadeusz Kantor (2012)". Uma coletânea dos escritos de Kantor, intitulada "O Teatro da Morte", organizada por Denis Bablet e publicada pelas editoras Perspectiva e Edições Sesc-SP, em 2008, contribuiu para aprofundar os conhecimentos dos pesquisadores brasileiros no tocante ao pensamento do artista. Contudo, uma compreensão global da obra de Kantor baseada apenas em teoria parece uma impossibilidade, algo difícil de se atingir. Para que se possa experimentar o mundo kantoriano de uma maneira plena, é necessário o contato físico com a obra, com toda sua vivacidade, aliado ao próprio discurso do artista, que abrange diferentes códigos e linguagens estéticas e cujas fronteiras permanecem inapreensíveis.
"Para a arte polonesa ele é o que para a arte alemã foi Joseph Beuy, e, para a americana, Andy Warhol. Criador de uma visão de teatro particular e diferente, participante ativo das revoluções vanguardistas, teórico original, inovador radicado profundamente na tradição, pintor anti-pinturista, happener-herege, conceitualista irônico, animador da vida artística na Polônia pós-guerra. Foi um grande artista não apenas por sua obra, mas pela totalidade da sua vida, sua arte e suas teorias" - diz Suchan.
A exposição foi organizada pelo Sesc Consolação São Paulo em parceria com Culture.pl e Muzeum Sztuki w Łodzi (Museu de Arte em Łódź).
Máquina Tadeusz Kantor. Teatro+happenings+performances+pinturas+outros modos de produção
Sesc Consolação, Rua Doutor Vila Nova, 245 – Vila Buarque, São Paulo, Brasil
18 de agosto – 14 de novembro de 2015
Curadores: Jarosław Suchan, Ricardo Muniz Fernandes
Arquitetura da exposição: Hideki Matsuka
Fontes: Culture.pl, elaboração. AS, 27.01.2015, tradução para o português Katarzyna Stachowicz