A maior contribuição de Rudzka foi, contudo, a introdução no palco da interrelação entre a cultura tradicional afro-brasileira e as artes cênicas modernas. Foi a primeira artista cênica daquele período que levou em consideração, dentro do seu processo criativo, a realidade cultural local. Conseguiu exceder as fronteiras do mero exotismo e folclorização. O que mais lhe chamou atenção, durante suas pesquisas artísticas, foram os cultos de possessão locais, ou seja, o candomblé afro-brasileiro. Lia Robatto lembra de ter visto, por muitas vezes, Rudzka anotando as linhas melódicas dos tambores afro-brasileiros e frequentando as cerimônias de candomblé. Rudzka foi a primeira coreógrafa na Bahia que usou, de maneira consciente, a simbologia de gestos do candomblé nos seus trabalhos. Introduziu também para o palco o instrumento tradicional berimbau, utilizado na capoeira.
Vale a pena refletir acerca desse casamento da modernidade com a tradição. Pode-se arriscar a afirmação de que a postura analítica perante a dança e a introdução no palco das emoções reais fossem um resultado da contribuição da estética expressionista. Qual a origem, porém, dessa síntese da modernidade nas coreografias de Rudzka? A hipótese levantada por Lia Robatto é a de que justamente nesse aspecto é que se percebe a influência da tradição cênica polonesa. O diretor seguinte da Escola de Dança UFBA, o alemão Rolf Gelewski, continuou a introduzir a estética do expressionismo, sem fazer, porém, uma referência tão forte à tradição. Como salienta a assistente de Rudzka, a diferença entre os dois consistia na sensibilidade distinta em relação ao mundo ao redor. Rudzka sabia perfeitamente entender e valorizar no palco o ambiente em que decorria o seu trabalho artístico. A união entre a tradição e a modernidade é um dos temas mais importantes da cultura da região nordeste do Brasil. Foi lá que nasceu, em protesto contra a dominação colonial, a chamada estética da revolta, baseada no respeito pela tradição e na valorização da cultura africana. Considerando a forte relação entre a arte cênica e a tradição romântica na Polônia, talvez possamos entender mais facilmente as motivações das pesquisas artísticas afro-brasileiras de Rudzka.
Autor: Maciej Różalski, maio de 2015, tradução: Magdalena Walczuk
Mais informações sobre Yanka Rudzka encontram-se em publicação eletrônica “Yanka Rudzka: entre traços da história e vestígios da memória” lançada por VIVADANÇA Festival Internacional, em parceria com o Art Stations Foundation e Culture.pl. A publicação reune textos de pesquisadores da Bahia e da Polônia, e é resultado do projeto que estudou os rastros deixados pela coreógrafa polonesa na Bahia, realizado durante a décima edição do festival, em abril de 2016. Os textos estão disponíveis em português e polonês. http://www.festivalvivadanca.com.br/wp-content/uploads/2016/05/YANKA-RUDZKA-OK.pdf
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