Aqui estão alguns indicadores para ajudar vocês a se orientarem sobre mais de um milênio de arquitetura polonesa.
1.Os egípcios têm as pirâmides, os romanos têm Coliseu, e os britânicos - Stonehenge. Então, quis são os monumentos mais antigos da Polônia?
2. Santi Gucci, Tylman van Gameren, Karl Friedrich Schinkel e Rainer Mahlamäki – será que existem edifícios poloneses construídos pelos próprios poloneses?
3. Edifícios e política – a arquitetura polonesa do século XX ganha independência duas vezes
4. O hexaedro mazóvio, o solar nobre e o cubo modernista – as casas dos poloneses
5. Varsóvia é a capital administrativa, Cracóvia é a capital turística, mas há também uma cidade que é a capital da arquitetura polonesa
6. Quase todos os arquitetos podem projetar um edifício, mas a verdadeira habilidade está no planejamento urbano.
7. Racionalismo é chato! Queremos algo mais rebelde!
8. A Polônia na União Europeia, é como um grande canteiro de obras
Os egípcios têm as pirâmides, os romanos têm o Coliseu, e os britânicos – Stonehenge. Então, quais são os monumentos mais antigos da Polônia?
Segundo os historiadores, o início do estado polonês remonta ao século X d. C. O país iniciou a sua formação após a união de duas tribos vizinhas: os Wiślanie ("Vistulenses"), que habitavam a área da atual Kraków, e os Polanie que viviam ao noroeste, ao redor da atual Poznań. Estas são as regiões que preservaram os vestígios dos mais antigos edifícios poloneses. São, antes de tudo, santuários. Isso se deve ao fato de que as casas foram feitas de madeira e barro, que não sobreviveram à passagem do tempo, enquanto as igrejas foram construídas com pedra.
O Castelo Real de Wawel em Kraków preserva fragmentos de uma igreja da segunda metade do século X. Relíquias de construções religiosas também podem ser encontradas em Poznań e Gniezno. Os edifícios mais antigos preservados integralmente foram construídos no século XII. A igreja de São Procópio, uma rotunda de pedra construída no estilo românico, foi erguida em torno do ano 1160 em Strzelno. É composta por uma torre na forma de ferradura e é também o único santuário no mundo com um presbitério retangular.
Um tesouro requintado da era medieval polonesa foi construído na mesma época na cidade mazóvia de Tum, perto de Łęczyca. Uma colegiada de três naves e duas torres, decorada com esculturas (incluindo um pórtico do século XII, preservado até hoje), de aspecto simples, até cru. Construída com formas geométricas básicas, a igreja se assemelha a uma fortaleza. Tudo isso é devido ao fato de que quando edifícios de grande porte eram construídos na Polônia naquele tempo, eram contratados pedreiros alemães. Isso resultou na importação de um estilo que era popular entre os vizinhos ocidentais da Polônia.
Muitos dos monumentos arquitetônicos dos períodos românico e gótico preservados até hoje eram parte de monastérios no passado. As primeiras ordens religiosas a povoar a Polônia no século X foram os monges beneditinos e cistercienses. As abadias beneditinas em Tyniec, Mogilno e Łysa Góra, bem como as cistercienses em Jędrzejów, Koprzywnica, Wąchock e Sulejów sofreram, posteriormente, modificações e expansões arquiteturais. Mesmo assim, ainda é possível observar traços dos antigos muros medievais.
Santi Gucci, Tylman van Gameren, Karl Friedrich Schinkel e Rainer Mahlamäki – será que realmente existem edifícios poloneses construídos pelos próprios poloneses?
No século XXI, não é nenhuma surpresa que edifícios importantes para o uso público sejam projetados após uma competição internacional escolher o desenho ganhador entre várias propostas enviadas por arquitetos de todo o mundo. Assim, arquitetos holandeses constroem no Oriente Médio, os ingleses - na China, e os americanos na Espanha. Graças a estes processos e o procedimento de concurso, a Polônia pode se gabar de uma série de excelentes prédios projetados por arquitetos que não são poloneses.
Uma das mais interessantes obras arquitetônicas recém-construídas em Varsóvia, o Museu da História de Judeus Poloneses (Muzeum Historii Żydów Polskich POLIN), foi projetada pelo estúdio do arquiteto finlandês Rainer Mahlamäki. A leve caixa de vidro emda sua forma exterior, que se encaixa perfeitamente aos ambientes modernistasacomodada perfeitamente nos seus arredores modernistas, acolhe um interior expressivo e ondulante.
A equipe austríaca Riegler Riewe Architekten propôs esconder o Museu da Silésia (Muzeum Śląskie) debaixo da terra, permitindo uma boa exposição das estruturas históricas da mina de carvão de Katowice.
Em 2007, a dupla italiana Claudio Nardi e Leonard Maria Proli venceu o concurso para um projeto que colocasse o Museu de Arte Contemporânea de Kraków (Muzeum Sztuki Współczesnej w Krakowie MOCAK) dentro da antiga fábrica de Schindler. O estúdio italiano-espanhol Estudio Barozzi Veiga criou um "iceberg" visionário – a forma culminante da sede da Filarmônica de Szczecin. Outro italiano, Renato Rizzi, projetou recentemente o Teatro Shakespeariano em Gdańsk fechado dentro de uma "caixa" de tijolos pretos sem janelas e equipada com um teto retratável. O teatro foi aberto oficialmente em 2014.
Arquitetos estrangeiros começaram a trabalhar no território polonês vários séculos atrás. Na Idade Média, viajaram para Polônia contratados para construir monumentos importantes, algo que os poloneses não tinham experiência. Mais tarde, reis e príncipes trouxeram arquitetos dos países considerados mais desenvolvidos culturalmente. Foi assim que o florentino Santi Gucci chegou ao Castelo Real de Wawel em meados do século XVI. Ele criou algumas obras-primas maneiristas. Utilizando o calcário leve e fácil de moldar, o italiano esculpiu lápides decorativas e expressivas, cheias de detalhes extravagantes. Em 1574-5, esculpiu em Wawel as tumbas do rei Zygmunt August e da rainha Anna Jagiellonka. Em 1595, fez a lápide para Stefan Batory, e em 1586 – os memoriais de Barbara e Andrzej Firlej na igreja em Janowiec. Ao mesmo tempo, Santi Gucci também projetou vários edifícios. Os castelos em Książ Wielki e Baranów Sandomierski no sudoeste da Polônia são verdadeiras joias do estilo maneirista. Eles brincam com a percepção, são cheios de surpresas arquiteturais, e ao mesmo tempo são elegantes e dotados de estilo.
Na segunda metade do século XVII, o holandês Tylman van Gameren trabalhava frequentemente para aristocratas poloneses. Mesmo ele sendo representante do barroco, suas obras são temperadas e elegantes. Formas modestas, típicas de van Gameren, foram utilizadas em palácios em Varsóvia – o Palácio da família Krasiński e Palácio Gniński-Ostrogski - em residências em Nieborów e Białystok, bem como em igrejas – Sant’Ana em Kraków e os conventos São Bernardo e São Casimiro em Varsóvia.
Devido à sua história tumultuada e a localização geográfica entre os dois impérios, as fronteiras da Polônia foram modificadas várias vezes. Por isso, as cidades polonesas atuais têm várias obras de arquitetos holandeses e alemães. As obras de Willen van den Blocke e seu filho Abraham van den Blocke são uma lembrança da antiga importância política e econômica de Gdańsk. Arquitetos e escultores holandeses do século XVII também trabalhavam em Gdańsk durante a construção dos portões Wyżynna (Planaltino) e Złota (Dourado), do Solar de Artus, do Chafariz de Netuno, do Wielka Zbrojownia (Grande Arsenal), bem como de várias lápides e epitáfios.
Kamieniec Ząbkowicki na Silésia Baixa, Kórnik, Antonin, e Buk – todos esses lugares preservaram as obras de um classicista importante do século XIX - Karl Friedrich Schinkel. Wrocław, outra cidade da Silésia, abriga o Salão do Centenário (Hala Stulecia), recém-incluído na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO, projetado por Max Berg no começo do século XX. Wrocław é também o lar da WuWA, uma área habitacional e trabalho experimental de modernistas alemães cuja pesquisa iria influenciar a construção de habitações na Europa nas décadas subsequentes.
Edifícios e política – a arquitetura polonesa do século 20 ganha independência duas vezes
No século XX, a Polônia reconquistou a sua independência duas vezes. A primeira foi em 1918, depois de 124 anos de existência sob partições. A segunda veio em 1989, quando o regime comunista foi derrubado com êxito e sem derramamento de sangue. Ambos eventos foram extremamente importantes e também influenciaram o desenvolvimento da arquitetura.
As duas décadas do período entreguerras, 1918-1939, acabaram sendo um período de florescimento sem precedentes da vida artística. A independência reconquistada influenciou arquitetos, alguns dos quais começaram a projetar espaços elegantes e finos para uso público e que também viraram símbolos do poder do estado renascido (entre estes arquitetos, estavam Adolf Szyszko-Bohusz, Marian Lalewicz e Bohdan Pniewski).
Outros, apaixonados pela vanguarda, em contato com Le Corbusier e os modernistas alemães e holandeses, desenharam casas modernas e minimalistas para os novos cidadãos. Helena e Szymon Syrkus desempenharam um papel importante entre os arquitetos vanguardistas, bem como a dupla Bohdan Lachert e Józef Szanajca. Estes vinte anos presenciaram uma verdadeira explosão da arquitetura polonesa que se apressava para compensar os anos perdidos das partições. Escolas de arquitetura foram desenvolvidas e vários estilos novos foram criados – desde o estilo de Zakopane, inspirado nas tradições populares dos serranos górale, até o estilo funcionalista ultra-contemporâneo.
Depois da transformação política de 1989, vários desenhistas e investidores sonharam em recuperar o atraso frente ao Ocidente. Esta ambição resultou em construções que aludiram deliberadamente ao estilo de vida capitalista.