A Polônia é polar
A Polônia é comumente vista como um país cercado de gelo, com neve permanente e ursos polares vadiando pelas ruas.
Na realidade, a Polônia fica na zona climática continental úmida. A temperatura média no verão é de 16,5 – 20°C e -6 – 0°C durante o inverno, ou seja, nada parecido com a imagem polar disseminada no imaginário das pessoas que vivem em lugares mais quentes. Na verdade, como as maiores montanhas da Europa, os Alpes, são posicionadas geograficamente no sentido leste / oeste, a Polônia recebe frequentemente algumas lufadas de ar quente do Mediterrâneo ou alguns sopros do clima continental ao leste. O posicionamento das correntes de ar entre duas zonas climáticas contraditórias causa alguma instabilidade no tempo meteorológico polonês, se tornando um tema comum nas conversas do dia a dia.
Por isso, esteja preparado para experimentar de tudo. Desde aguaceiros pesadíssimos, 3 dias de chuviscos ininterruptos, secas escaldantes e ondas de calor no verão, até montes de neve e geadas severas no inverno. Nada é certo e, por essa razão, tanto invernos sem neve como verões sem calor não são raros.
A única coisa que podemos garantir é a de que não há ursos polares aqui, mas temos muitos ursos pardos, e um deles chegou a se tornar um herói famoso na II Guerra Mundial.
A Polônia é um pequeno país sem litoral no oriente remoto da Europa
Quando você se apresenta como polonês fora da Europa, o que normalmente vê no rosto da pessoa com a qual você está conversando é uma careta confusa. Depois, se você estiver com sorte, aparecem perguntas sobre a vizinha Rússia, além de outras associações sobre um país pequeno e perdido lá no extremo leste da Europa.
Em primeiro lugar, nada disso é verdadeiro. A Polônia não é um estado náufrago, pequenino, perdido no meio do vácuo da Europa Oriental. É o nono maior país da Europa (tanto pela área como pelo número de habitantes), situado do lado direito da Alemanha, com o mar Báltico ao norte e as serras dos Cárpatos ao sul. O único território russo que faz fronteira com a Polônia é Kaliningrado, um enclave isolado.
Vale a pena estar ciente de que os poloneses tendem a ficar irritados quando classificados como europeus orientais. Eles consideram os ucranianos, bielorrussos e russos como os únicos europeus do Leste e acreditam que eles próprios estão situados bem no meio da Europa. Embora essa opinião possa ser ridicularizada como polonocêntrica, a noção de Europa Central (em oposição à Europa Oriental) chegou a se tornar cada vez mais comum, e ainda que esse conceito seja bastante fluido, a grande maioria dessas definições inclui a Polônia como um país da Europa Central.
A Polônia é uma ex-república soviética
Este conceito, às vezes perto de uma convicção fortíssima, é completamente errado mas tem alguma justificativa para a sua existência. A Polônia acabou ficando sob a influência soviética após a II Guerra Mundial e perdeu a maioria de sua independência, mas nunca fez parte da União Soviética em nenhum momento.
Este equívoco pode resultar do fato de que o maior tratado militar do lado soviético da Cortina de Ferro tenha sido assinado em Varsóvia e, consequentemente, era conhecido como o Pacto de Varsóvia (nome formal: Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua). Isso deu origem a uma organização muito parecida com a OTAN, liderada pela URSS e destinada apenas aos países do bloco comunista.
O grau de dependência da Polônia em relação à URSS variou bastante durante o período comunista, mas nunca fez com que o país tivesse o mesmo destino da Lituânia, Letônia, Estônia e Ucrânia, que foram involuntariamente absorvidas pela URSS.
O tamanho do país e a manutenção de uma certa independência foram os fatores-chave para a revolução pacífica da Polônia em 1989, bem como a queda do comunismo e do domínio da URSS.
Os poloneses falam apenas russo
O título deste equívoco deveria ser: os poloneses falam apenas russo, ou o polonês é quase a mesma coisa que russo.
A verdade é que os poloneses falam polonês. O polonês, porém, faz parte do mesmo grupo linguístico que o russo. É uma língua eslava e pode soar semelhante ao russo para alguém que não tenha familiaridade com este grupo. Além disso, há uma certa semelhança distante entre os dois idiomas, mas o russo não é compreensível para um polonês que nunca o estudou, e vice-versa.
O russo era obrigatório nas escolas polonesas até 1989, mas desde então, sofreu uma grande perda de popularidade. O sentimento anti-soviético fez com que as pessoas rejeitassem o aprendizado da língua no maior país vizinho e isso somou-se ao fato de que as aspirações polonesas de entrar na União Europeia e correr atrás das economias ocidentais fizeram com que todos aprendessem o inglês. É por este motivo que, hoje em dia, você não vai poder se comunicar em russo com as pessoas nascidas nos anos 80, a não ser que eles tenham optado por aprender a língua. As pessoas mais velhas devem ter pelo menos um conhecimento básico do russo, mas raramente são tão fluentes quanto os georgianos, ucranianos e moradores de outros países ex-soviéticos.
Havia campos de concentração poloneses
Em contraste com os outros equívocos, este é bem sério e infelizmente foi repetido tantas vezes, seja por erro ou por ação deliberada, que as pessoas ficam seriamente confusas em relação a isso. Houve grandes escândalos com figuras públicas importantes (como o Presidente Obama) ou da mídia (o Le Figaro francês), atribuindo os campos de concentração nazistas à Polônia.
Estes erros são muito dolorosos, pois os poloneses foram umas das maiores vítimas destes campos. Segundo a Organização Stutthof, mais de 3,3 milhões de poloneses foram presos nos campos e mais da metade foi exterminada ou morreu devido às condições terríveis dos campos, além da fome.
A única coisa que estes campos tiveram a ver com a Polônia foi o fato de que foram construídos pelos nazistas no solo polonês após a sua conquista. O objetivo era exterminar os judeus e transformar os poloneses em camponeses e trabalhadores do Terceiro Reich, aniquilando a intelligentsia polonesa. Havia 3,5 milhões de judeus vivendo na Polônia antes da guerra. Estes campos foram construídos por uma questão de conveniência, por mais terrível que isso soe.
As mulheres polonesas são loiras e bobinhas
A maioria da mídia ocidental perpetua a ideia de que as polonesas são loiras bonitas e frágeis, sem vontade e nem razão próprias. Nada mais errado!
Desde o século XIX, as polonesas vêm lutando por seus direitos, primeiramente desobedecendo a autoridade dos seus maridos e pais para em seguida, a duras penas, obterem os mesmos direitos econômicos e políticos. Na Polônia atual as mulheres são fortes, independentes, mais educadas do que os homens (de acordo com as estatísticas) e formam uma parte incrivelmente ativa da sociedade. Elas continuam rompendo os últimos tetos de vidro de desigualdade de gênero e desempenhando papéis-chave nos assuntos públicos – como a primeira-ministra atual, Beata Szydło, ou a sua predecessora, Ewa Kopacz.
Você sabia que a Polônia foi o segundo país do bloco soviético (atrás da Lituânia) a nomear uma primeira-ministra? Hanna Suchocka foi empossada já em 1992, apenas três anos depois da revolução pacífica de 1989.
Autor: Wojciech Oleksiak, outubro de 2015 (tradução para o português: Marek Cichy)
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