"(A)pollonia" ( "(A)polônia") foi criada em coprodução com os palcos de Paris, Bruxelas, Liége, Genebra e o festival de Avignon, bem como os Wiener Festwochen. No elenco, as estrelas do Nowy Teatr (Teatro Nowy): Magdalena Cielecka, Maciej Stuhr e Maja Ostaszewska. As heroínas da peça mundialmente reconhecida são três mulheres - Ifigênia, Alceste, Apolônia – vítimas, voluntárias ou não, das guerras e do destino. Krzysztof Warlikowski destrói os mitos sobre o sacrifício e convida os espectadores a uma viagem teatral pela grande carnificina que é a história da humanidade. Se um sacrifício resulta em mais sacrifícios, o que fazer? Será que temos o direito de decidir sobre a vida de alguém? – pergunta o diretor, fazendo malabarismos com estilos e gêneros, entrelaçando os fios dramáticos do espetáculo com canções de rock de Renate Jett, misturando a Antiguidade com a reportagem, a literatura com as novas mídias e o filme.
"(...) Alceste casou-se com um homem grego e, como presente de casamento, Apolo jurou que quando o seu marido estivesse morrendo, poderia ajudar-lhe sob a condição de que seu marido encontrasse alguém para morrer em seu lugar. A morte veio num momento da vida muito inadequado, quando tinha filhos e estava muito feliz. Sua mulher aceitou morrer por ele. É a primeira história, que não quero contar até ao fim. A segunda história é fatual. Durante a ocupação [nazista da Polônia – N. do T.], Apolonia Marczyńska escondia judeus. Quando os alemães souberam disso, a mulher teve que fugir com o seu pai e filhos. Foi capturada. Durante a interrogação, admitiu o fato. Os alemães impuseram um ultimato: se o pai dizesse que havia sido ele quem escondeu os judeus, a filha iria sobreviver. O homem não disse nada." (Paulina Sygnatowicz – entrevista com Krzysztof Warlikowski, 24 de outubro de 2008)
O que causa uma profunda impressão é a cenografia crua de metal, acrílico e concreto, desenhada por Małgorzata Szczęśniak, uma colaboradora de Warlikowski desde muitos anos. Ela trasformou os espaços fabris da empresa de vodka Koneser do bairro de Praga num lugar parecido com um banheiro, ou talvez um matadouro. Há também um salão móvel, e os rostos dos atores são ampliados e seguidos pelas câmeras. O espetáculo foi recebido muito positivamente tanto pelo público e críticos da Polônia como do exterior. "Warlikowski arrasou!" – relatava Jacek Wakar, nas páginas de "Dziennik". Segundo o crítico teatral, com "(A)polônia", o diretor ampliou os horizontes do seu teatro.
"É um teatro de perguntas sem respostas. O diretor abre o espaço do mito do sacrifício e da morte desde a Antiguidade até hoje. É possível justificar o sacrifício de Ifigênia (Magdalena Popławska), que nunca deixou de ser uma criança? Como interpretar o ato de Alceste (Magdalena Cielecka), entregando sua vida para Admeto (Jacek Poniedziałek)? E Agamemnon (Maciej Stuhr)? Matava na guerra com fervor, e agora apresenta um balanço chocante da morte. Warlikowski fala sobre uma espiral de matança que a humanidade não conseguiu parar por milhares de anos. A segunda parte contemporânea da performance, começa com a palestra de Elizabeth Costello (Anna Radwan-Gancarczyk) do livro de Coetzee. A mulher grita a conclusão em nossa direção. O Holocausto se renova a cada dia, porque fugimos de qualquer crime hediondo. Não vai haver castigo. O que vai ficar é a pesar de Sławek (Marek Kalita), pois sua mãe Apolônia (Magdalena Cielecka) preferiu salvar judeus a viver com ele. Agora, das mãos de Héracles (Andrzej Chyra), um showman disfarçado de Joker do último filme de "Batman", recebe em nome dela a medalha de Justo entre as Nações. Mas isso não vai lhe trazer justiça. O mundo de "(A)polônia" é regido apenas pela lógica do extermínio."
Joanna Derkaczew, por sua vez, observa em Gazeta Wyborcza que Warlikowski apresenta-se em "(A)polônia" mais como filósofo do que artista.
"Tanto os heróis dos dramas de Ésquilo e Eurípides como da prosa contemporânea estão buscando desesperadamente uma forma para as suas histórias. Do teatro de bonecos, fábulas ou parábola, passam para o estilo de entrevista, talk show, discurso público, palestra, chat, interrogatório, videoconferência, depoimento gravado em vídeo. Todas essas tentativas de comunicação falham. O que têm para transmitir não pode ser ouvido e entendido. Como se pode aceitar o discurso do genocida Agamemnon voltando da guerra, que assim como Adolf Eichmann (do famoso livro de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal) tenta convencer: "vocês também teriam matado em meu lugar – apenas têm a sorte de que ninguém os tinha posto ante aquela escolha"?
A estreia polonesa do espetáculo deu-se em 16 de maio de 2009 em Varsóvia e dois meses depois, em 16 de julho de 2009, no Pátio dos Papas em Avinhão durante a festa internacional de teatro. Segundo a crítica teatral do jornal Le Monde, a peça polonesa induziu na França "um choque estético e mental."(...) Krzysztof Warlikowski continua em "(A)polônia" sua reflexão sobre a História trágica com uma maestria formal cada vez maior " – sublinhava a autora do texto, Fabienne Darge. Um outro jornal - Le Figaro – considerou "(A)polônia" um dos melhores espetáculos do festival. A encenação polonesa foi reconhecida também na Rússia, onde em 2011 "(A)polônia" obteve o prêmio de melhor peça estrangeira no prestigioso festival Máscara d´Ouro. O acontecimento despertou muita atenção da mídia russa.
"Na minha opinião, é de longe um dos melhores espetáculos da última década. Primeiro, é uma linguagem teatral absolutamente moderna. O texto cênico é tão consistente e empolgante que as cinco horas se passam num piscar de olho.” – escrevia Jelena Kowalska no "Afisz" (“Cartaz” – N. do T.), revista quinzenal distribuída em todas as grandes cidades da Rússia.
A música foi composta por Paweł Mykietyn, as canções por Renate Jett, enquanto Piotr Gruszczyński era responsável pela dramaturgia do espetáculo.
Elenco: Magdalena Cielecka, Ewa Dałkowska, Renate Jett, Małgorzata Hajewska - Krzysztofik / Danuta Stenka, Anna Radwan-Gancarczyk / Monika Niemczyk / Aleksandra Konieczna, Maja Ostaszewska / Anna Radwan-Gancarczyk, Magdalena Popławska, Andrzej Chyra, Wojciech Kalarus, Marek Kalita, Zygmunt Malanowicz, Adam Nawojczyk / Bartosz Gelner, Jacek Poniedziałek, Maciej Stuhr, Tomasz Tyndyk (ator do TR Warszawa)/ Piotr Polak.
fontes: Nowy Teatr, Polityka, Gazeta Wyborcza, Dziennik Gazeta Prawna, Culture.pl, org. AL