Teve sua estreia como diretor no Teatr Stary, com a peça "Forma przetrwalnikowa" (Forma de sobrevivência), baseada no diário online de Kasia Kostecka, uma médica em busca do êxito profissional na Inglaterra. "Forma de Sobrevivência” fez parte da performance "Blogi.pl" (Blogues.pl), composta também de trabalhos de Małgorzata Hajewska-Krzysztofik e Szymon Kaczmarek.
Inspirado pelo pensamento de Roland Barthes, ele adaptou para o palco os seus "Fragmentos de um discurso amoroso" (2009, Teatr Dramatyczny em Varsóvia). Na encenação do texto "Versus. Na selva das cidades" de Bertolt Brecht, as observações do filósofo francês acerca do wrestling tornaram-se uma chave para o espetáculo (2008, Teatr Nowy em Cracóvia). Nas suas realizações, Rychcik testou diferentes convenções: "Versus. Na selva das cidades" se assemelhava a um show no ringue; em "Na solidão dos campos de algodão" de Bernard-Marie Koltès (2009, Teatr Stefan Żeromski em Kielce) apareceram elementos de uma festa de boate ou de um show ao vivo, com a apresentação no palco da banda Natural Born Chillers; na adaptação de "Madame Bovary" de Gustave Flaubert (2010, Teatr Dramatyczny em Varsóvia), foi possível perceber alguns elementos formais presentes em óperas dirigidas por Robert Wilson ou Peter Greenaway.
O diretor constrói seus espetáculos de forma a provocar um impacto emocional muito forte no público. Ele observa a resistência do espectador e também leva os seus atores ao limite. Em "Fragmentos de um discurso amoroso" os atores tinham que "forçar os seus corpos em formas que correspondam às figuras da linguagem, e que, tal como elas, são repetitivas e convencionalizadas" (Katarzyna Urbaniak, " Dziennik Teatralny" [Diário Teatral] - Varsóvia, 10 de fevereiro de 2009. )
Como no drama de Brecht, o diretor procurou por novas formas de expressão dramática, exigindo de seus atores que atuassem com uma mímica exagerada e uma corporeidade apresentada de um modo "radical".
"O cansaço físico dos atores vai até os limites da sua resistência - escreveu Marta Bryś - Eles suam, se jogam um ao outro, se espancam, ignorando o risco de lesões, testando a resistência do corpo." (Didaskalia 89/2009).
Em "Madame Bovary", Joanna Drozda, que desempenhou o papel da personagem-título, foi uma verdadeira encarnação da histeria:
"O que a sua Emma - sempre ávida e insatisfeita - busca em outra pessoa é um desejo insaciável - escreveu Joanna Derkaczew. - Ela termina por proferir uma ambígua oração-fellatio, uma chamada erótica ao Deus. Mas nem mesmo Nele, ela consegue achar o infinito." (Gazeta Wyborcza, 21 de aril de 2010)
Na peça "Łysek z pokładu Idy" (Łysek da mina Ida) , baseada no texto de Gustaw Morcinek (2010), Rychik utilizou uma variedade de elementos já antes experimentados. Aparece nela tanto a música ao vivo, as tarefas de atores fisicamente exaustivas, como também as emoções extremas provocadas deliberadamente nos dois lados da rampa, tão características de seus projetos. Esta impressão ficou ainda mais intensificada pelo lugar em que "Łysek z pokładu Idy" foi encenada. O espetáculo, sob os auspícios do Teatr Dramatyczny im. Jerzego Szaniawskiego em Wałbrzych, foi exibido na antiga mina local, Stara Kopalnia.
A estreia de "Hamlet" (2011) na direção de Rychcik foi considerado o melhor espetáculo da temporada pelo júri da Competição Nacional de Encenação de Obras de William Shakespeare e recomendado a participar do décimo quinto Festival de Shakespeare em Gdańsk, no qual a peça recebeu o prêmio principal.
O espetáculo tem um ar despreocupado, quase que infantil, focado antes em estimular os sentidos do que provocar reflexão. Hamlet de Rychcik não se vinga pelo seu pai. Ele se vinga em seu próprio nome. Teve uma infância infeliz, no meio de cuidadores de personalidades perturbadas. Os adultos cultivavam nele a imaturidade e o narcisismo. A única coisa que exigiam dele era que mostrasse a sua obediência. Falharam. Todos eles vão morrer. (Joanna Derkaczew, Gazeta Wyborcza)
Em março de 2012, Rychcik dirigiu "Doze homens em fúria" no palco do Teatr Nowy im. Tadeusza Łomnickiego em Poznań.
Por ocasião do 68ª aniversário do Levante de Varsóvia, dirigiu o espetáculo "O Levante", cooprodução do Museu do Levante de Varsóvia e do Teatr Dramatyczny em Varsóvia.
- Trabalhar com esse projeto foi uma experiência absolutamente única. Graças à coprodução realizada pelo teatro e pelo museu, podemos encenar a peça num espaço muito interessante e num momento muito especial. O fato de a estreia ocorrer no dia 1 de agosto, no aniversário do Levante de Varsóvia, é muito inspirador e comprometedor. Varsóvia ainda é um grande cemitério, uma cidade de fantasmas que demandam que nos lembremos delas. A própria presença no palco em 1.º de agosto já é significativa. O público verá os acontecimentos daqueles dias contados através de nós mesmos - diz o diretor.
Em 2014, Radosław Rychcik utilizou o teatro para tratar acerca das questões do racismo e da exclusão. Na sua interpretação de "Dziady" (Os Antepassados) de Mickiewicz, feitiçarias e rituais eslavos foram transferidos com bravura para o mundo da cultura popular americana. Gustaw Konrad estava acompanhado por Marylin Monroe, John F. Kennedy e Martin Luther King. O espetáculo conquistou tanto a crítica como o público no Festival Open'er, onde foi apresentado diante de uma audiência de alguns milhares de espectadores.
Segundo os críticos, "Dziady", encenado no Teatr Nowy em Poznań, é a primeira tentativa bem sucedida de abordar a obra romântica de Mickiewicz através de uma perspectiva global.
Radosław Rychcik foi premiado por este espetáculo com o prestigiado Paszport Polityki (Passaporte, da revista "Polityka"). Como lemos na justificativa do júri: " Pela encenação de "Dziady" mais subversiva, ousada e consequente nos últimos anos, (...) por mostrar o drama polonês de forma exímia com uma decoração totalmente inesperada" - escreveu Jacek Wakar.
Em 2014, em ocasião do 600º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Turquia e a Polônia, Rychcik encenou, na Turquia, o espetáculo "Aalst", que relembra um crime muito comentado na Bélgica. Tem a forma de uma interrogação. Em um palco imerso na escuridão, há duas poltronas revestidas de peluche, jornais dispersos por todos os lados, e neles, restos de peixes. Ao lado, um pódio para os músicos. Um casal acusado de ter assassinado os próprios filhos, responde a perguntas sobre as suas motivações. O público também pode tomar parte. A peça é baseada em materiais judiciais do processo mostrando, minuciosamente, um retrato psicológico dos infanticidas, mas não pretende desculpá-los. ‘Até agora, escrevi sobre muitas pessoas desagradáveis ou até assustadoras nas minhas peças e contos, mas nada me preparou para os meses que passei na companhia de Michael e Cathy Delaney” - ressoando dos alto-falantes, esta frase abriu o espetáculo, apresentado também em Varsóvia.
A fascinação pela cultura popular americana e as tentativas de reinterpretação original dos clássicos poloneses voltaram nas propostas seguintes de Rychcik, como no espetáculo "Utalentowany Pan Ripley" (O talentoso Ripley, 2015). No Teatr Studio em Varsóvia, o encenador decidiu analisar a mente de um dos maiores anti-heróis literários - Tom Ripley, do badalado romance de Mary Patricia Highsmith. No entanto, em "Wesele"(O casamento), o encenador levou os espectadores do Teatr Śląski em Katowice para as ruas de Belfast norte-irlandês dos anos 70, encaixando o drama de Wyspiański na história de conflitos religiosos e divisões sociais da Ilha Verde. Qual foi o resultado? Aneta Kyzioł relatou nas páginas da “Polityka”:
"Assiste-se ao espetáculo com prazer e interesse, também porque o encenador sabe surpreender, e não tem medo disto. Isia é uma adolescente grávida, que anda de patins, Rachela - uma terrorista carismática com uma pistola (Barbara Lubos, excelente também em cenas cantadas), no papel de um dos espíritos aparece dançarino conhecido do filme - Billy Elliot, e o pub irlandês dos 70. é reproduzido perfeitamente.(...)"
No “Newsweek”, Michał Centkowski escreveu a crítica:
“Diálogos levemente aperfeiçoados continuam divertindo com a precisão de observações morais. O espírito do Pintor foi substituido por Billy Elliot (Dominik Więcek), Wernyhora - pelo Menino com a trompa (Michał Zdrzałek), que tocava um jazz melancólico num beco escuro. Piast virou o Rei Arthur, e Jakub Szela é William Moore. Mesmo assim, rapidamente, os conflitos que movimentam o drama de Wyspiański, param de funcionar. As tensões entre as classes sociais, ambições independentistas e os mitos nacionais deixam o lugar para uma briga de embriagados com um mal-traçado conflito religioso por trás. É uma pena, porque mesmo com todo o empenho dos atores, é difícil adivinhar qual é a causa desta luta.”
Prêmios:
- 2009 - prêmio da audiência Fanaberia (Capricho) por "Na Solidão dos Campos de Algodão" de Bernard-Marie Koltès (Teatr Stefan Żeromski em Kielce) no 7.º Festival Internacional de Teatro Fanaberia em Wałbrzych
- 2010 - prêmio da Rádio Polonesa PIK pelo espetáculo "Na Solidão dos Campos de Algodão" de Bernard-Marie Koltès (Teatr Stefan Żeromski em Kielce) no 20.º Festival Internacional de Teatro em Toruń; prêmio de jornalistas de Kielce na competição Dzika Róża (Rosa Brava) pelo melhor espetáculo da temporada 2009/2010; prêmio da revista mensal "Teraz" (Agora) por "Na Solidão dos Campos de Algodão" de Bernard-Marie Koltès (Teatr Stefan Żeromski em Kielce)
- 2011- prêmio principal de direção pelo espetáculo "Łysek z pokładu Idy" (Teatr Dramatyczny em Wałbrzych) no 13.º Festival Nacional de Direção Interpretacje (Intepretações) em Katowice; prêmio Dzika Róża em Kielce e prêmio de jornalistas pelo melhor espetáculo por "Hamlet"; prêmio para o espetáculo "Hamlet" (Teatr Stefan Żeromski em Kielce) na Competição Nacional de Melhor Encenação de Obras Dramáticas de William Shakespeare em Gdańsk, temporada 2010/2011.
- 2014 - Grand Prix no 39.º Festival Confrontos Teatrais "Clássicos Poloneses 2014" em Opole pelo espetáculo "Dziady" ; premiado com Paszport Polityki (Passaporte, da revista "Polityka").
Autor: Monika Mokrzycka-Pokora, junho de 2011. Atualizalção: julho de 2012 - LS, fevereiro de 2016 - AL; tradução: Magdalena Walczuk
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