Nasceu no dia 26 de maio de 1962 em Szczecin. Realizou trabalhos na Polônia e também em outros países como França, Alemanha, Holanda e Israel. Os seus espetáculos foram exibidos em importantes festivais de teatro tais como o Festival de Avignon, Festival Next Wave em Nova Iorque e Festival TransAmériques em Montreal.
Estudou História, Filologia românica e Filosofia na Universidade Jagielloński em Kraków. Após sair da Polônia em 1983, Warlikowski mudou-se para Paris, onde participou do seminário de teatro antigo na École Pratique des Hautes Études, Estudando também Filosofia, Literatura francesa e Línguas na Universidade de Sorbonne. Em 1989, voltou para a Polônia e ingressou no Departamento de Direção Teatral da Escola Estatal Superior de Teatro em Kraków, onde foi aluno de Krystian Lupa.
"Todas as pessoas deveriam conhecer alguém como ele o mais cedo possível em suas vidas" - afirma Warlikowski, sobre Lupa - "Ele é formado por um conjunto de leituras diferentes e por uma experiência geracional diferente. Porém, estamos unidos pela maneira que buscamos abrir o teatro para uma série de questões distintas." ("Notatnik Teatralny" ["Caderno do teatro"] 2003, nº 28-29)
Acerca das suas primeiras experiências teatrais, o diretor afirmou:
"Em Kraków assisti a espetáculos de Konrad Swinarski, Jerzy Jarocki, Andrzej Wajda, Krystian Lupa. No exterior, na França, não me deparei com nenhum teatro interessante e, como resultado, passava as noites na ópera e no balé. Aqueles espetáculos não tinham nada de extraordinário, mas se destacavam por uma beleza e um grande senso de estilo. Vi o teatro barroco na Opéra Comique, óperas na Opéra-Garnier e, no teatro Odéon, vi espetáculos de Ingmar Bergman, Giorgio Strehler e de outros artistas convidados pelo Teatro das Nações e, mais tarde, da União dos Teatros da Europa." ("Notatnik Teatralny" 2003, nº 28-29)
Provocador teatral
Warlikowski teve também a oportunidade de conhecer Peter Brook, Ingmar Bergman e Giorgio Strehler pessoalmente, participando de oficinas por eles ministradas. Brook convidou o artista para colaborar na realização da ópera "Impressions de Pelléas", baseada em "Pelléas et Mélisande", de Claude Debussy (Bouffes du Nord, Paris).
Para o seu espetáculo de conclusão de curso, Warlikowski executou "Auto da fé", de Elias Canetti (1992). No palco da Escola Estatal Superior de Teatro em Kraków, ele realizou também a produção de "Białe noce według Fiodora Dostojewskiego" (Noites brancas segundo Fiódor Dostoiévski, 1992) e ainda "Zbrodnia przy ulicy Lourcine" (O caso da rua ao lado) de Eugène Labiche (1994) no Teatro de Escola (Teatr Szkolny) em Wrocław.
Warlikowski realizou o seu primeiro espetáculo profissionalmente no palco do Teatr Stary em Kraków, encenando "A Marquesa d'O" de Heinrich von Kleist" (1993). Em seguida, no Teatr Nowy em Poznań, o diretor optou por um drama contemporâneo de Bernard-Marie Koltès intitulado "Roberto Zucco" (1995). O espetáculo trouxe-lhe a fama de um provocador teatral.
"Homicídio como última alternativa, solidão, biologia, a corrida para a morte, um mundo horrível e deformado que não pode ser reparado e onde não há espaço para sentimentos" – escreveu o crítico Jacek Wakar sobre a encenação de "Roberto Zucco" em Poznań, destacando anteriormente - "O sucesso de Warlikowski e dos atores do Nowy Teatr consiste em eles procurarem descrever o mundo neste espetáculo, assim como Koltès. Não é uma tarefa fácil e, muitas vezes, eles acabam por colocar uma pergunta, a qual o próprio espectador tem que responder." ("Teatr" ["Teatro"], 1996, nº 1)
Warlikowski dirigiu outra obra de Koltès no Teatr Studio em Varsóvia em 1998. Desta vez, levou para o palco a peça "Cais Oeste", já realizada anteriormente por ele em Gradsko Dramsko Kazaliste Gavella em Zagreb (1998). A segunda metade da década de 1990 trouxe mais dois espetáculos do diretor - "Proces" (O processo) segundo Franz Kafka (1995, School of Drama Beit Zvi em Tel Aviv) e o espetáculo "Tancerz mecenasa Kraykowskiego" de Witold Gombrowicz" (Dançarino do doutor Kraykowski , 1997, Teatr Powszechny em Radom), preparado para o Festival de Gombrowicz.
"Valorizo Shakespeare por sua recusa aos compromissos"
Shakespeare é, sem dúvida, um dos autores mais importantes para o teatro de Warlikowski.
"Shakespeare tornou-se o meu mestre de ofício" - admite o diretor. - "Valorizo sua recusa aos compromissos e seu desejo em descrever o mundo inteiro e não apenas um fragmento da realidade." ("Notatnik Teatralny" 2003, nº 28-29)
Até o momento, Warlikowski encenou peças do bardo de Stratford onze vezes. Em 1994, levou "O Mercador de Veneza" para o palco do Teatro W. Horzyca em Toruń. Outros espetáculos importantes foram "Conto do inverno" no Teatr Nowy em Poznań (1997) e "A megera domada" realizada no Teatr Dramatyczny de Varsóvia (1998).
"(...) sem restrições, [Warlikowski] introduziu elementos da realidade contemporânea no palco (...)" - apontou Roman Pawłowski. - "As interferências do diretor no mundo das comédias renascentistas não se limitavam a vestir os personagens de calças jeans e paletós. Warlikowski operou de fato uma reconstrução profunda do significado das peças, filtrando-o através de um pensamento contemporâneo. "A megera domada" tornou-se uma história de como se quebra o caráter de uma mulher e a priva da liberdade. (...) "Conto de inverno", por sua vez, transformou-se de um conto de fadas fantástico, com cenas pastoris e cânticos, em uma história amarga sobre a desintegração de uma família." (Notatnik Teatralny" 2003, nº 28-29)
Warlikowski realizou "Hamlet" duas vezes. A primeira vez foi na Escola de Drama Beit Zvi em Tel Aviv (1997) e a segunda em 1999, no Teatr Rozmaitości em Varsóvia (a partir do ano de 2003, o teatro passou a funcionar sob o novo nome de TR Warszawa), onde ele passou a trabalhar regularmente desde então. No espetáculo realizado em Varsóvia, o diretor rejeitou a perspectiva política do drama e Hamlet, protagonizado por Jacek Poniedziałek, colocava principalmente perguntas sobre a sua própria identidade, inclusive através de uma dimensão sexual.
O espetáculo "A tempestade", Teatr Rozmaitości em Varsóvia, 2003) revelou-se uma espécie de divisor de águas nas suas encenações de Shakespeare. A obra é um drama que Warlikowski acabou retornando a ele por várias vezes. Três anos antes ele havia realizado "A tempestade" no Staatstheater em Stuttgart, no palco do Kammertheater. O diretor admitiu que, ao realizar o espetáculo em Varsóvia, refletiu acerca da tragédia de Jedwabne, mais precisamente, acerca do problema do entendimento inter-humano e do perdão. Nesta peça, o diretor fez alguns questionamentos importantes sobre a liberdade e as possibilidades do perdão e de unificação no mundo caótico atual, em que a maioria dos valores, segundo Warlikowski, se perderam.
"Meticuloso, surpreendente pela forma crua e pura, inteligente (...)" - escreveu Iza Natasza Czapska sobre o espetáculo. - "A força deste espetáculo está na sua fórmula bem contemporânea, que recupera a verdade das palavras e dos acontecimentos contidos em 'A Tempestade'. Esta obra de Shakespeare, um tanto grandiosa, transforma-se aqui num drama muito mais íntimo. (...)" ("Życie Warszawy"["Vida de Varsóvia"], 9 de janeiro de 2003).
Por sua vez, o espetáculo francês "Le songe d'une nuit d'été " (Sonho de uma noite de verão), realizado no Théâtre National em Nice (2003), foi considerado uma provocação por uma parte do público, que abandonou a sala do teatro.
" 'Sonho de uma noite de verão', interpretado por vários diretores do século XX como uma fábula romântica, transforma-se numa história brutal sobre a agressão dos sentimentos humanos e violação de corpos e almas" - escreveu Roman Pawłowski. - "A floresta, que sempre funcionou como um espaço de liberdade, em contraste com a corte ateniense, aqui assume a forma de um inferno de perversão. Deste modo, Warlikowski expandiu a problemática da liberdade explorada em "A Tempestade", incluindo um outro tipo de liberdade - a liberdade moral e suas consequências perigosas para o homem contemporâneo." ("Notatnik Teatralny" 2003, nº 28-29)
Após a estreia francesa no palco do Staatstheater em Hannover, o diretor realizou ainda "Makbeth" (2004). As encenações anteriores de Shakespeare, realizadas por Warlikowski no estrangeiro, incluíram as produções bem-sucedidas de "Pericle, principe di Tiro" (Péricles, Príncipe de Tiro) no Piccolo Teatro di Milano (1998) e "Was ihr wollt" (Noite de Reis) no palco Kammertheater do Staatstheater em Stuttgart em 1999.
Warlikowski admite que a Bíblia e o mundo clássico ocupam um lugar especial na sua esfera de interesses e fascinações artísticas. O primeiro drama clássico encenado por ele foi "Hanashim hafanikiot" (As Fenícias) no Municipal Theatre, Beer Sheva (1998). Ele também dirigiu uma versão modernizada de "Electra" de Sófocles em um cenário balcânico no Teatr Dramatyczny em Varsóvia (1997) e, mais uma peça de Eurípides, desta vez "As bacantes", no Teatr Rozmaitości (2001).
"(...) 'As Bacantes' impressionam antes de tudo pela coragem de tocar os segredos mais sombrios da existência, pela coragem e clareza de penetrar a essência da divindade e da necessidade imposta pela sorte e pelo destino" - escreveu Piotr Gruszczyński. - "Este espetáculo é mais um passo no sentido de estender as fronteiras do teatro. Usado como uma ferramenta de conhecimento, em conformidade com o seu estatuto de sacro, o teatro recupera a possibilidade de criar um profundo discurso intelectual, apoiado nas emoções mais profundas." ("Tygodnik Powszechny", 4 março de 2001)
Ópera é uma prisão
Warlikowski também encena óperas. É considerado um dos diretores de ópera mais importantes dos palcos europeus.
"Ópera é uma prisão" - diz o diretor. - "Até que ponto podemos criar um enclave de liberdade dentro dela, é o problema mais básico e essencial. A tarefa do diretor é injetar vida dentro das estruturas impostas pela partitura e pelas diferentes convenções ossificadas." ("Rzeczpospolita" 2004, nº 224)
No ano 2000, Warlikowski teve a sua estreia no mundo da ópera com uma produção, em um ato, de Roxana Panufnik intitulada "The Music Programme" (O programa musical) (coprodução de BOC Covent Garden Festival de Londres e do Teatro Wielki - Opera Narodowa [Ópera Nacional] de Varsóvia). Dirigiu também no Teatr Wielki - Opera Narodowa a ópera "Don Carlos" de Giuseppe Verdi (2000),"Ignorant i szaleniec" (O ignorante e o louco) de Paweł Mykietyn (2001), "Wytatuowane języki" (Línguas tatuadas) de Martijn Padding (coprodução com Stichting Geest Gronden CC), "Ubu Rex" (Rei Ubu) de Krzysztof Penderecki (2003) e "Wozzeck" de Alban Berg (2006). Entre as suas realizações se incluem, na Ópera de Paris, as obras "Ifigenia w Taurydzie" (Ifigênia em Táuris) de Christoph Willibald Gluck (2006) e "Sprawa Makropoulos" (Caso de Makropoulos) de Leoš Janaček (2007). Em 2007, encenou também "Eugene Onegin" de Piotr Tchaikowsky em Staatsoper, Munique. Mais tarde, trabalhou na Ópera Bastille parisiense com a obra "Parsifal" de Richard Wagner (2008). Criou um espetáculo contemporâneo controverso sobre o amor, a morte e a maturidade, enriquecido com os fragmentos do filme "Alemanha, Ano Zero" de Roberto Rossellini.
O fascínio pelo mundo clássico e pela ópera se uniram no próximo trabalho de Warlikowski - "Medea" de Luigi Cherubini no Teatro La Monnaie em Bruxelas (2008). Recorrendo ao mito grego, num espetáculo construído como uma ópera-thriller, o diretor apresentou uma imagem amarga do mundo atual. Warlikowski interpreta as óperas de forma bastante contemporânea, modificando com frequência o libretto, às vezes adicionando novos enredos e, principalmente, se aprofundando nos personagens. Ele extrai do seu interior os sentimentos humanos - por vezes nobres, por vezes cheios de crueldade - e complexifica as relações entre eles.
Psicodrama no teatro: "Purificados", "Anjos na América", "Krum"
Em 2001, Warlikowski voltou ao drama contemporâneo com a encenação de "Oczyszczeni" (Purificados) de Sarah Kane (coprodução do Teatr Współczesny em Wrocław, Teatr Rozmaitości em Varsóvia e Teatr Polski em Poznań) - um espetáculo cruel e perturbador sobre a solidão e a necessidade de amor.
"Quando enceno peças de Koltès ou Kane, tenho a impressão de que estou tentando invadir um universo fechado. Não fico satisfeito em me limitar a problemas particulares, de grupos e comunidades fechadas, ou seja, a imediatez do amanhã ou de ontem" - afirmou o diretor comparando os dramas de autores jovens às obras de Shakespeare. ("Notatnik Teatralny" 2003, nº 28-29)
"É o espetáculo em que Warlikowski formou definitivamente o seu próprio estilo, purificou-o (nomen omen), levou à perfeição artística" - escreveu Janusz Majcherek sobre "Oczyszczeni". - "Ele não é apenas mais um jovem talentoso; ele é simplesmente um diretor excepcional. Ele encontrou um caminho para esse drama em que a sua leitura parece exceder todas as possibilidades cênicas. Warlikowski entendeu perfeitamente que era preciso traduzir a literalidade da descrição para os signos metafóricos e que Sarah Kane era, de fato, uma poetisa que exigia uma abordagem poética no teatro. " ("Teatr" 2002, nº 1-2)
O drama contemporâneo foi também a sua escolha no trabalho com o grupo teatral holandês Tonnel Groep. Em Amsterdam, realizou com eles um espetáculo poético chamado "Speaking in Tongues" baseado na peça de Andrew Bovella (2004), que fala do vazio espiritual, provocador da depressão. Na realização de "Madame de Sade", de Yukio Mishima (2006), Warlikowski formulou perguntas dramáticas acerca do mundo atual sem um Deus, sem pecado e sem culpa.
Em 2002, no palco de Schauspiel em Bonn, Warlikowski assumiu o desafio de adaptar e dirigir a grande obra épica de Marcel Proust "Em busca do tempo perdido" (2002). O espetáculo abordou, principalmente, os temas da transcendência e da morte.
"No teatro de Warlikowski descobrimos um Proust diferente, que percebe com perspicácia o declínio da civilização europeia e acerta as contas com a hipocrisia sexual e as normas morais." (Piotr Gruszczyński, "Tygodnik Powszechny" 2002, nº 29)
Em 2003, Warlikowski, atendendo a um convite especial feito pelo Festival de Avignon, produziu o espetáculo "Dybuk" (Dybbuk), baseado no drama de Solomon An-ski e uma novela de Hanna Krall de mesmo título (coprodução de: Teatro Współczesny em Poznań, Teatro Rozmaitości em Varsóvia, Festival d'Avignon, THEOREM). O diretor contou uma história comovente sobre o amor espiritual e a consciência pós-guerra. Tocou nos assuntos ligados à fé e à consciência moral. O espetáculo inscreveu-se fortemente também no debate sobre as relações polono-judaicas no pós-guerra.
Os espetáculos realizados posteriormente no TR Warszawa foram: "Krum" de Hanoch Levin (2005, cooprodução com Narodowy Stary Teatr em Cracóvia) - uma história comovente sobre a solidão e a batalha em confronto com a morte - e, dois anos mais tarde, em 2007, o espetáculo "Anioły w Ameryce" (Anjos na América) baseado no texto premiado com o Pulitzer de Tony Kushner - uma história que ocorre na comunidade de homossexuais novaiorquinos, na segunda metade dos anos 1980, na época da difusão da AIDS. Novamente, os assuntos abordados são: alteridade, exclusão e desenraizamento.
"O diretor nos proporcionou uma conexão direta com o céu" - descreveu o espetáculo Agata Saraczyńska. - "Com o céu teatral. Cada episódio desta peça, mesmo o menor, é uma obra-prima. No meio da sujeira da pandemia de AIDS, da homofobia, da moralidade dúbia e do conservadorismo moral, politico e religioso, ele introduz a pureza de uma mensagem universal de amor e tolerância. Ele convida a metafísica para a terra." ("Gazeta Wyborcza - Wrocław" 2007, nº 240)
Krzysztof Warlikowski colabora há anos com os mesmos artistas: Małgorzata Szczęśniak, que elabora o cenário, e Paweł Mykietyn - compositor da maioria das músicas dos espetáculos do diretor. Os espetáculos de Warlikowski, que se mantêm longe do ensaísmo imediatista, descrevem com perspicácia a contemporaneidade e, ao mesmo tempo, penetram profundamente nos fundamentos da existência humana, não hesitando em abordar os temas sociais e morais mais delicados. Operando uma linguagem teatral moderna, o diretor consegue apresentar no palco de um modo muito íntimo a dor, o desespero, o amor, a crueldade, a rejeição, e a solidão sem fim. Com uma paixão e determinação impressionantes, ele descreve o ser humano em cada dimensão, desde a fisiologia até às questões da consciência moral. Não se abstendo de meios drásticos, ele fala incansavelmente sobre o dever de entender o outro, de consentir e perdoar. Através do ser humano, ele aborda os temas universais, procura encontrar e descrever a essência do bem e do mal e, enfim, a necessidade de entrar em contato com o sacrado. De modo geral, seus espetáculos não provocam emoções moderadas. Eles causam ou indignação ou admiração. Não permitem apenas uma reflexão intelectual, pois mexem com as emoções mais íntimas, por vezes embaraçosas, quebram tabus, confrontam o espectador com os seus sentimentos mais profundos e também com a sua visão de mundo e a sua fé, qualquer que seja.
"O teatro de Warlikowski é, para os seus espectadores, um espaço de psicodrama profundo. Não digo psicanálise, pois, esta se processa mais tarde, por conta própria, já após sair do teatro" - escreveu Piotr Gruszczyński. - "Ao longo do espetáculo, as mentes dos espectadores ficam envolvidos numa rebelião que consiste em abalar aquelas convicções imperturbáveis que cada um de nós conserva e alimenta dentro de si. Seu objetivo é eliminar o modo de pensamento direcionado, motivado pela eficiência e que visa alcançar um alvo concreto. Esta forma de pensar e viver, que é algo que a vida cotidiana exige de nós, bloqueia o nosso acesso à esfera do mito e da fantasia. Conforme mandam as normas culturais, elas passam a ser proibidas, ou até se transformam em tabus. Warlikowski parte do pressuposto de que, sem quebrar a barreira do pensamento focado na conquista contínua de objetivos de vida, do pensamento em “conquistar”, não é possível criar no teatro uma situação honesta que nos deixe falar sobre assuntos importantes, tais como: culpa, identidade sexual, caráter da natureza humana e seu condicionamento pelo mal." ("Notatnik Teatralny" 2003, nº 28-29)
No ano de 2007, foi publicado o volume "Szekspir i uzurpator"(Shakespeare e usurpador), registro de conversas entre Krzysztof Warlikowski e Piotr Gruszczyński (Editora W.A.B., Varsóvia) e, no ano de 2008, o livro da autoria de Grzegorz Niziołek "Warlikowski. Extra ecclesiam" (Editora Homini, Cracóvia).
Eurípides, cabaré e Shakespeare
"(A)polônia" ( 2009) é um espetáculo extraordinário realizado por Warlikowski e a sua equipe em colaboração com os maiores festivais e palcos europeus. Recorrendo a textos de Ésquilo, Eurípides, Hanna Krall e J.M. Coetzee, os criadores da peça falam sobre o sacrifício - voluntário e involuntário - do indíviduo pela pátria. Os papéis principais foram desempenhados por Magdalena Cielecka, Maciej Stuhr e Magdalena Popławska. Os críticos são unânimes em considerar "(A)polônia" um dos espetáculos mais importantes do teatro contemporâneo dos últimos anos.
Na sua resenha publicada na revista "Polityka", Aneta Kyzioł afirmou:
"No palco arranjado na Fábrica de Vodka Koneser em Varsóvia, a cenógrafa Małgorzata Szczęśniak construiu uma sala de jantar, dois contêineres transparentes com apartamentos de Clitemnestra e Alceste, um banheiro e uma sala de concertos pequena. O teatro clássico entrelaça-se aqui com um show de rock de Renate Jett e sua banda, discursos de heróis (Agamemnon - criminoso de guerra protagonizado por Stuhr, citando fragmentos de "As Benevolentes" de Littel, tenta convencer que ninguém nasce algoz, são as circunstâncias que o transformam nele), com palestras (Anna Radwan-Gancarczyk, com as palavras da defensora dos direitos de animais Elizabeth Costello da novela de Coetzee, compara os matadouros aos campos de concentração nazistas), com um bate-papo pela internet e com um quiz televisivo. Na parede de fundo observamos close-ups dos rostos de protagonistas, captados por uma câmera vigilante. Tudo isso faz de “(A)polônia” a encenação mais complexa e extensa de Warlikowski e sua equipe. Apesar da atuação extraordinária dos atores e da magnitude do trabalho envolvido em sua preparação, o espetáculo deixa a impressão de ser sobrecarregado e sobre-estetizado. Como um produto belo, impressionante e profissional em cada detalhe, focado a ganhar sucesso internacional. "
Quase toda a mídia francesa formadora de opinião, inclusive os jornais "Le Monde" e "Le Figaro", receberam "(A)polônia" com entusiasmo. Os críticos louvaram unanimamente a atuação dos atores - ousada e cheia de paixão - e a destreza de Warlikowski na direção da peça. Segundo "Le Monde", o espetáculo polonês "causa um choque estético e desconstrói as opiniões comuns sobre a crueldade e o sacrifício na história da humanidade".