Ewa Bochen e Maciej Jelski, foto: Kosmos Project
"Radio" (2009) – um aparelho em forma de cruz de madeira acionado por um bater de palmas gerou muitas controvérsias. Este projeto do Kosmos Project, que visava provocar uma reflexão sobre o poder da mídia e a solidão do indivíduo na sociedade contemporânea foi, por muitos, considerado iconoclasta. Os seus autores admitem que o trabalho foi originado por um certo fascínio pelo fenômeno da Rádio Maryja:
"O impacto desta emissora nos impressionava muito, assim como o fato de as pessoas precisarem tanto se sentir parte de uma comunidade" – admitem numa entrevista concedida à revista "Wysokie Obsasy".
"Rádio" mostra bem os objetivos que Ewa Bochen e Maciej Jelski colocam diante da sua arte. Os dois, formados pela Faculdade de Arquitetura de Interiores da Academia de Belas Artes de Varsóvia (Ewa estudou também no Politécnico de Milão e Maciej na Academia de Arte e Design em Stuttgart), experimentam frequentemente com a forma dos objetos, estudando as relações que se criam entre eles e o espectador/utilizador:
"Acreditamos que os objetos se enchem de sentido graças às emoções do receptor que os observa. Por outro lado, estas emoções são evocadas pela impressão que o objeto causa no espectador. A inspiração para os nossos projetos é a relação e a tensão mútua entre a natureza, o homem e a tecnologia" – declaram na entrevista para a revista "Czas na wnętrze".
Jogando com as formas, cores e materiais, justapondo objetos pertencentes a diferentes ordens e acentuando nas suas realizações o elemento irracional, eles se referem com frequência à filosofia de Carl Gustav Jung e, principalmente, ao seu conceito de inconsciente coletivo que trata de padrões de reação, pensamento e funcionamento do homem, isto é, instintos e arquétipos. Os artistas descrevem seus projetos como "novos símbolos" capazes de representar o homem contemporâneo. Seus trabalhos são feitos baseados em matéria-prima ecológica e natural, além de tecnologicamente avançada.
Os designers oscilam constantemente entre a austeridade fria e a vitalidade das formas biológicas. Objetos tais como "Grzebień-kastet" (Pente soco-inglês, 2009), "Fotel Lulu" (A Poltrona Lulu, 2010) e "Lampa L1" (Lâmpada L1, 2010) caracterizam-se por uma simplicidade e geometria de formas e por um minimalismo de materiais usados (aço, vidro, madeira, concreto). Kosmos Project alcança neles uma síntese de associações e referências, captadas numa forma simples.
O pente de prata em forma de soco-inglês dota de um ar provocativo a feminilidade percebida de forma estereotipada. O seu estilo punk corresponde bem à imagem da mulher moderna que une em si várias expectativas e características contraditórias. "Fotel Lulu", fabricada pela empresa italiana Airnova, é, por sua vez, uma versão modernizada da "poltrona da vovó".
Um dos trabalhos de Kosmos Project que despertou grande interesse por parte da mídia e dos críticos é a "Lampa L1", construída de concreto (fragmento de um meio-fio), de uma barra de armação e um tubo fluorescente. O peso total da peça é de 40 quilos. O projeto foi exibido pela primeira vez durante o Łódź Design Festival 2010 e constitui uma tentativa original de revitalização do material considerado entulho inútil.
"A ideia do Kosmos é, num certo sentido, uma referência à lâmpada clássica Arco Achille de Castiglioni. L1 é também uma espécie de piada, mas contendo a sugestão de que vale a pena reaproveitar a matéria-prima"– comenta Ewa Trzcionka, editora do portal Designalive.pl.
As cópias da lâmpada são feitas sob encomenda individual e disponíveis em várias dimensões. Existe também uma versão com lâmpada LED
O segundo grupo de projetos do Kosmos Project é composto por objetos e interiores que se referem a associações biológicas. Os criadores não raro inspiram-se pela forma do coração humano – evidenciado pelos trabalhos "The Heart" (2008) e "Love" (2008).
A jarra de vinho ("The Heart") foi feita de vidro de laboratório e formada à semelhança do órgão sugerido no título. O campo interpretativo que ela abre é muito amplo: o vinho na jarra se associa ao sangue, o coração é onde as emoções residem, a jarra lembra um recipiente alquímico, etc. O objeto, ao mesmo tempo, conserva todos os valores da funcionalidade:
"A forma (...) permite segurar o recipiente de uma maneira cômoda, assim como colocar o vinho dentro dele e nas taças. Os designers pensaram até mesmo em como limpar a jarra e, para tal fim, encontraremos dentro da caixa uma vareta-escova de limpeza" – nota Krystyna Łuczak-Surówka (www.designby.pl).
O projeto "Love" - um coração gigantesco feito de látex preto - apresentado no Łódź Design Festival 2008, estabelece uma metáfora semelhante. Por meio dele, Bochen e Jelski procuravam um símbolo de sentimentos, capaz de representar as relações amorosas complexas da contemporaneidade do modo mais adequado que o faz um coração vermelho de São Valentim, um tanto kitsch.
O projeto "Microcosmo" (2009), de autoria do dueto, revelou-se a representação mais completa da corporeidade no design. Foi um projeto de interior realizado para a Suite d’Autore - Art Hotel em Palermo, premiado no concurso "Design organico". O Kosmos Project se aprofundou no interior do corpo humano, formando tecidos, células, estruturas biológicas. Os criadores colocaram lado a lado texturas diferentes - macias e duras, ásperas e lisas. O interior possui dois elementos dominantes: o primeiro é uma parede entre o banheiro e o dormitório criada à semelhança do tecido ósseo e o segundo - uma cama vermelha que lembra o coração humano.
"Queríamos criar neste interior um ambiente bem íntimo, um ar de mistério intrigante e, paradoxalmente, da calma, apesar da aplicação das cores intensas" – afirmam os artistas.
Outro espaço de sua autoria que mexe da mesma maneira com os sentidos é o "Secret Garden" – o interior de uma loja, revestido de formas macias lembrando plantas.