A dança, na Polônia, especialmente a contemporânea, não tem uma posição certa. Existem teatros de ópera com seus elencos de bailarinos e teatros musicais, mas faltam teatros de dança com palco e sala de treino próprios. Joanna Leśnierowska encheu este espaço vazio com a sua ideia de casa da dança. A casa da dança é um centro de arte da dança que, durante todo o ano, apresenta espetáculos internacionais e locais, e desempenha vários papéis distintos, propiciando oficinas, educação, produção, dependentemente das capacidades do centro. Cada cidade grande na Escandinávia tem o seu próprio dansens hus, assim como também ocorre na Alemanha, onde cada cidade tem um tanz haus com um subsídio do estado razoável, um programa regular, e muitas vezes com um festival próprio. Estes lugares normalmente não têm elenco e nem repertório.
"Funcionam mais como centros artísticos, segundo as regras agenciais, mostrando regularmente espetáculos, organizando oficinas para o público e para os bailarinos. Esta atividade é, por um lado, um tipo de educação alternativa, fora das escolas de dança, e por outro, apresenta ao público uma variedade de projetos educativos, históricos e críticos. A maioria das casas de dança sérias tem ofertas de residências artísticas e programas de financiamento de coproduções. Possuem ateliês próprios em que trabalham os artistas e ocasionalmente também têm um grupo fixo de artistas colaboradores " - disse Joanna Leśnierowska numa conversa "Programowanie jako wyznanie miłości" com Agata Siwiak.
O Stary Browar é o único espaço de dança especializado da Polônia. É o primeiro palco nacional que se foca unicamente na apresentação da dança contemporânea. Uma das características de uma temporada de dança na Polônia é que a maioria dos eventos se concentra em torno dos festivais, por falta de um espaço de representações permanente.
"Aqui, em Poznań, temos um ateliê e um espaço de representações, estamos disponíveis para a colaboração, oferecemos alojamento e nos concentramos, principalmente, em apoiar a coreografia polonesa. Esta é para mim a questão crucial" - afirma Joanna Leśnierowska.
E continua contando, com entusiasmo:
"Stary Browar Nowy Taniec foi criado como um programa de promoção da dança contemporânea na Polônia, com destaque para as formas vanguardistas associadas com a coreografia conceitual, experimental, em constante busca, e com outras formas performativas situadas entre as artes visuais, body art, body instalation e a performance art. Iniciando este programa, eu quis que o público tivesse a noção de que o teatro de dança é só uma entre as várias formas de expressão coreográfica no palco, como por exemplo a dança pura, que é uma mera interpretação da música e todas as outras formas de dança situadas no limiar de diferentes modalidades de arte."
Poznań orgulha-se de uma tradição longa e bem fundamentada de teatro off e do mundialmente famoso Festival Malta. Portanto, o público da cidade já teve a oportunidade de assistir a múltiplos eventos teatrais, visuais e de dança. É um público aberto que procura um comunicado artístico, em vez da mera dança e habilidades físicas. É um público para o qual o critério fundamental de avaliação não é a simples categoria do gosto. Este público quer e sabe entrar no diálogo com o artista, interessa-lhe o processo de criação do bailarino/ator/performer e sabe fazer referência entre este processo e vários outros fenômenos no domínio de artes performativas, visuais ou musicais.
"Tal público torna-se um interlocutor interessante, por um lado muito exigente do artista, incentivando-o a discutir sobre a própria arte, e por outro lado, assegurando-lhe conforto. No espaço do Stary Browar nos encontramos, pois, para discutir sobre a arte da dança porque todos nós, artistas e espectadores, amamos a dança e queremos que seja melhor". (Leśnierowska numa conversa com Agata Siwiak "Programowanie jako wyznanie miłości")
Joanna Leśnierowska é uma personalidade intensa, cheia de energia e otimismo. Stary Browar é toda a sua vida e ela se dedica a isto com o devido respeito e amor de profissional, e com a atitude aberta de uma amadora. Em pouco tempo, conseguiu reunir um público fiel e dedicado. As peças sempre podem contar com a casa cheia ou, por vezes, até com um público transbordante, assim como os artistas transbordam dos hábitos burgueses, como os bailarinos jovens e os fãs de dança que aqui estudam ultrapassam os limites físicos e como os funcionários das instituições de cultura ultrapassam os limites dos seus costumes de muito anos conferindo subvenções e apoiando uma atividade tão aventurosa e "perigosa" do seu ponto de vista... Ultrapassando os limites da mente humana.
Leśnierowska é um exemplo ideal de uma curadora carinhosa que subordina todas as suas atividades à preocupação pelos artistas e pelo nível da arte que apresentam e criam enquanto hospedados no Stary Browar. É também a autora responsável e até, na minha opinião, visionária, de todo o programa deste espaço artístico extraordinário, a embaixadora cuidadosa e responsável da dança polonesa no estrangeiro.
"O trabalho de curadora consiste em fazer contínuas perguntas sobre as formas da arte, seus objetivos, sobre o que pode resultar disso, e de responder a estas perguntas do ponto de vista individual. Existe no trabalho da curadora o perigo de querer ser também uma artista superiora àqueles que se convida. É importante guardar as proporções, delinear as fronteiras do domínio onde a curadora, justapondo espetáculos diferentes, os comenta não vindo a ser a criadora suprema desta realidade". (conversa de Joanna Leśnierowska com Aneta Siwiak)
Há dois anos, no Stary Browar, organizam-se oficinas para jovens artistas, dando origem a um programa educativo cuidadosamente pensado. O objetivo é o de propiciar e completar a formação no país onde falta uma escola superior para bailarinos e coreógrafos. A única exceção é a Faculdade de dança da Escola Superior de Teatro em Kraków, que tem funcionado desde 2008 em Bytom e, desde o ano acadêmico 2011/2012, iniciou o curso de coreografia e teoria da dança na Escola Superior de Música (Uniwersytet Muzyczny) em Varsóvia. Todos os outros tipos de formação são aulas nas escolas superiores de música.
Iniciada há dois anos, a Alternatywna Akademia Tańca (AAT, Academia Alternativa de Dança) é, na realidade, uma série de pesquisas e oficinas semanais que ocorrem a cada dois meses durante um ano. Um artista estrangeiro de renome no seu domínio é convidado para conduzir, em Poznań, aulas intensivas com artistas de toda a Polônia, quase sempre terminadas com uma apresentação para o público. Uma parte dos artistas pode assistir às aulas aproveitando um sistema de bolsas. Os mais dotados e aplicados recebem o reembolso dos custos de alojamento e um subsídio diário.
As reuniões em Stary Browar são também uma ocasião para conhecer melhor o mundo da dança, cujos membros normalmente trabalham em pontos afastados. É também uma oportunidade de trocar experiências, travar amizades e vínculos profissionais. Graças à Alternatywna Akademia Tańca e ao Solo Projekt (mais uma iniciativa de Leśnierowska), os participantes da AAT inspiram-se mutuamente, apoiam e encorajam seus empreendimentos artísticos. A primeira edição da AAT incluiu os professores: Arkadi Zaides de Israel, que é também um brilhante leitor de ga-ga, Hooman Sharif, pedágogo norueguês-irano, Jozef Fruček, Ria Higler da Holanda, Chris Haring de Viena, a neozelandesa Simon Aughterlony, Jonathan Burrows e Michael Schumacher de Amsterdam. Convidam-se artistas divergentes. A apresentação para o público também faz parte importante desta missão.
Uma outra iniciativa significante do centro de dança Stary Browar é o Polski Program Rezydencyjny (Programa Polonês de Residências), cuja primeira edição ocorreu em 2006. Já que dispunha das condições infraestruturais apropriadas, foi apenas em dois anos que a Arts Stations Foundation começou a apoiar as novas produções e a busca de artistas ousados, que saibam criar obras inovadoras. A escolha mais econômica parecia um solo: três jovens artistas recebem uma bolsa para, durante a residência, criar um solo de dança. Até agora, surgiram dezessete composições. Dezessete residentes, seis centros representados pelos coreógrafos: Varsóvia (Anita Wach, Renata Piotrowska, Karol Tymiński, Ramona Nagabczyńska, Aleksandra Borys, Anna Nowicka, Izabela Szostak), Kraków (Dominika Knapik, Małgorzata Haduch, Magdalena Przybysz, Rafał Urbacki), Łódź (Konrad Szymański, Aleksandra Ścibor), Lublin (Tomasz Bazan), Poznań (Janusz Orlik) e Wrocław (Irena Lipińska).
"Ainda que convenha parcialmente concordar que o programa evidencia perfeitamente o progresso que vamos fazendo a recuperar os atrasos no domínio da dança contemporânea, não é a sua única função, sendo a mais importante a de estimular o desenvolvimento da coreografia polonesa. Não é menos relevante a questão de traçar novos caminhos para a dança contemporânea, concentrar-se nas possibilidades de expressão dentro dela, uma análise profunda dos componentes do movimento, o confronto com a sua intencionalidade, a multiplicidade das formas, a presença do corpo real do bailarino no movimento e a reinterpretação das relações com o público". (Julia Hoczyk, "Cielesność, tożsamość, (de)konstrukcja. 5-lecie Solo Projektu", "Didaskalia" 103/104)
Em 2008, Joanna Leśnierowska, junto com Anna Hryniewiecka do Centrum Kultury Zamek (Centro de Cultura Zamek) em Poznań, assumiu a ideia da Polska Platforma Tańca (Plataforma Polonesa de Dança). Como consequência, de uma apoiante espiritual e material de artistas poloneses (graças à Arts Stations Foundation) e da diretora artística de um lugar de encontro e de trabalho de artistas poloneses e estrangeiros, ela passou a ser a protetora de toda a dança polonesa. A ideia da ciclicamente organizada Polska Platforma Tańca consiste em familiarizar críticos, curadores e organizadores dos festivais estrangeiros com o mais valioso que tivesse ocorrido nos dois anos anteriores na dança polonesa. Graças a isto, começou-se a falar sobre a dança contemporânea polonesa no mundo, enquanto alguns artistas jovens conseguiram iniciar projetos e apresentações internacionais. O resultado dessa atividade de Joanna Leśnierowska é a integração do mundo artístico, a qual é um excelente pretexto para iniciar um debate crítico sobre a dança, sobretudo a polonesa, em particular.
A entrevista com Joanna Leśnierowska abre o livro de Anna Królica "Pokolenie solo" (Geração solo). A curadora relembra o início de sua carreira de mais de uma década:
"O meu objetivo era levantar, tanto em artistas quanto no público, a consciência da riqueza dos fenômenos contemporâneos na dança, e iniciar uma discussão para, desta forma, preparar um fundamento para o desenvolvimento da arte coreográfica na Polônia. Este meu desejo foi o resultado da observação do universo da dança polonesa e internacional, do ponto de vista de quem escreve sobre a dança, porque o meu caminho profissional começou justamente pela crítica da dança."