Após as encenações teatrais das grandes obras de prosa, Jarzyna voltou a trabalhar com os textos contemporâneos. No teatro varsoviense Rozmaitości, dirigiu "Uroczystość" (Festa) de Thomas Vinterberg e Mogens Rukov (2001). Neste caso, o roteiro do filme "Festen" realizado em 1998 pelo "Dogma" serviu como base da adaptação.
"A história de uma festa de família durante a qual fica revelado, com toda a sua sordidez, um segredo que estava escondido por longos anos, torna-se uma vivisecção - sombria e muito real - da psique humana, no fundo da qual há monstros prontos para emergir" - escreveu Tomasz Mościcki, sobre o espetáculo de Jarzyna ("Życie" 8 de junho de 2001).
Uma história sobre a mentira e a necessidade de revelar a verdade, que tem um efeito purificador – Jarzyna dirigiu a peça de modo a captar o significado de um cerimonial familiar.
"Penso que "Uroczystość" mexe em algumas questões sociais importantes. Ela ataca a hipocrisia e o mal oculto. Faz com que a gente se dê conta de que as famílias polonesas sejam muito fraturadas" - disse o diretor. - "Outro assunto que me interessa neste texto é a Festa do título... Esta festa é como um relógio enorme... um mecanismo que nunca pode parar." ("Gazeta Wyborcza" 21-22 de abril de 2001)
O espetáculo seguinte de Jarzyna, baseado na peça da autora britânica Sarah Kane intitulado "4.48 Psychosis" foi realizado em uma coprodução do Teatr Rozmaitości de Varsóvia e Teatr Polski de Poznań. A história chocante de uma garota que - inevitavelmente, conscientemente e deliberadamente - prossegue até à morte suicida, foi abordada por Jarzyna de modo quase ascético, com ênfase nos valores poéticos do texto.
"Não se trata de um jogo de interpretação com a literatura, de uma atuação com virtuosismo, de um brilho de luzes ou de uma transgressão de normas de conduta" - anotou Roman Pawłowski. - "Trata-se de encarar uma tragédia humana, mostrada sem ornamentos desnecessários, em uma escala um por um. Os atores, depois do espetáculo, não saem para serem aplaudidos. Por que eles sairiam? Para serem aplaudidos pela dor e desgraça alheias?" ("Gazeta Wyborcza" 25 de fevereiro de 2002)
Jovens e Shakespeare
Os espetáculos seguintes de Jarzyna foram criados para o projeto Teren Warszawa (Terreno Varsóvia), realizado no teatro TR Warszawa (antigamente Teatr Rozmaitości). O diretor convidou para a colaboração jovens dramaturgos, atores e diretores. Durante a temporada 2003/2004, o teatro abrigou uma oficina de escrita dramática e oficina de atores. No final, os seus participantes apresentaram onze espetáculos comoventes, baseados em dramas contemporâneos do mundo inteiro. Os espetáculos foram exibidos em espaços pouco convencionais, adaptados especialmente para fins teatrais. A essência do projeto Teren Warszawa consistia em descobrir novos espaços que permitissem criar um teatro bastante atual, capaz de tocar em problemas de pessoas "aqui e agora".
Jarzyna dirigiu "Zaryzykuj Wszystko" (Arrisca tudo), do dramaturgo canadense contemporâneo George F. Walker (2003). O espetáculo, mantido dentro de uma poética crua chamada de "realista" pelo diretor, foi apresentado na Estação Central de Varsóvia. Protagonizado de modo bastante interessante pelos atores e tendo uma história de gângsteres como pano de fundo, o espetáculo fala sobre quatro pessoas muito perdidas, ligadas entre si pelos laços familiares e relações emocionais complicadas. A sua história oscila entre a comédia e o drama. O espetáculo "Bash" de Neil LaBute (2004), apresentado numa antiga fábrica de impressão, levava um tom bem diferente. Jarzyna mostrou monólogos-confissões de três pessoas que haviam sido responsáveis por uma morte. O espetáculo decorria paralelamente em três salas, e a confissão dos personagens assumia a forma de um show público, como em um programa televisivo.
Desde o ano de 2005, Jarzyna desenvolve um projeto chamado TR / PL no teatro TR Warszawa. Seu objetivo é procurar por formas dramáticas adequadas à Polônia contemporânea. O projeto envolve tanto dramaturgos, como diretores teatrais. Até o momento, foram produzidos cinco espetáculos. Foi também publicada uma antologia de textos intitulada "TR / PL. Antologia nowego dramatu polskiego" ("TR/PL. Antologia do novo drama polonês", Varsóvia, 2006).
Em 2005, Jarzyna enfrentou o desafio de interpretar uma obra de Shakespeare, produzindo a peça "2007: Macbeth" – um grande espetáculo encenado dentro do contexto de uma guerra no Oriente Médio, apresentado em quatro andares da antiga Fábrica Waryński em Varsóvia. Em 2006, foi produzida uma versão televisiva do espetáculo.
Jarzyna e a ópera
Logo em seguida, Jarzyna estreou como diretor de ópera. Em 2005, dirigiu "Cosi fan tutte" de Wolfgang Amadeus Mozart no Teatr Wielki em Poznań. O diretor adaptou o enredo da peça para os tempos atuais e procurou abordar o tema da natureza do amor e do vazio emocional, mostrando a sexualidade dentro de uma abordagem que utilizava diferentes estilos e convenções. Durante a produção de "Cosi fan tutte", foi gravado um documentário sobre o diretor. No filme intitulado "Zajarzyć Jarzynę" (Entender Jarzyna) de Rafał Jerzak e Sławomir Moraczyński (2006), o artista contou sobre a sua vida privada, a sua maneira de entender o teatro e o seu fascínio pela ópera.
O diretor desenvolveu as suas reflexões sobre a ópera nas produções que se seguiram: "Giovanni", baseado em "Don Giovanni" de Mozart e "Don Juan" de Molière (2006, Teatr Wielki - Opera Narodowa em Varsóvia). O espetáculo, que foi uma união da ópera e do teatro, contou com a participação, na sua maioria, de atores dramáticos. Jarzyna construiu um retrato de um sedutor contemporâneo - um homem solteiro, de meia-idade, esteta e amante de música clássica, emancipado, brutal, vazio e decepcionado com a vida. Jarzyna é também autor do libretto da ópera de Zygmunt Krauze "Iwona, księżniczka Burgunda" (Ivone, Princesa da Borgonha), baseado no drama de Witold Gombrowicz. A estreia da ópera, sob a direção de Krauze e Jarzyna, ocorreu em 2004 no Théâtre Sylvia Monfort em Paris. A estreia polonesa, sob a direção de Marek Weiss-Grzesiński, foi realizada no Teatr Wielki - Opera Narodowa em Varsóvia (2007; e anteriormente, em 2006, foi possível assistir a ópera durante o Festival Internacional de Música Contemporânea "Warszawska Jesień" [Outono Varsoviense]).
Vários espetáculos de Jarzyna foram apresentados também no estrangeiro. "Książę Myszkin" foi exibido no Festival de Avignon. A peça "Uroczystość" foi apresentada em Berlim no Hebbel Theater durante o Wiener Festwochen e no Festival de Avignon e, mais tarde, também em Londres no Sadlers' Wells, em Dublin no Abbey Theatre e na cidade de Jerusalém. O espetáculo "Zaryzukuj wszystko" foi convidado para o teatro novaiorquino St. Ann's Warehouse em Brooklyn. Jarzyna realizou trabalhos fora da Polônia muitas vezes. Paralelamente ao espetáculo polonês "4.48 Psychosis" de Sarah Kane, foi criada outra versão da peça no palco do Schauspielhaus em Düsseldorf (2002). Em 2003, o diretor realizou o espetáculo "W dżungli miast" (Na selva das cidades) de Bertolt Brecht para o Schaubühne berlinense. A peça abordava reflexões acerca da sexualidade doentia contemporânea e a degeneração do sistema social. Em 2006, no palco Kasino do teatro vienense Burgtheater, foi apresentado o espetáculo "Projekt. Medea" (Projeto. Medea.), pelo qual o diretor foi premiado com o prestigiado prêmio do teatro austríaco Nestroy Preise. Jarzyna apresentou na peça uma versão original do mito. O roteiro da peça foi criado em colaboração com o dramaturgo Michał Walczak. A ação da obra ocorria na atualidade, na cidade de Viena. Os personagens principais eram uma mulher georgiana (Medea) e um homem alemão (Jasão). No palco, observamos a desintegração de seu relacionamento, traição e crime.
"É fascinante para mim o momento em que o instinto de autopreservação se rende diante da agressão que também flui dentro de nós mesmos – disse Jarzyna, sobre o trabalho com o projeto. - A morte, ou antes, o crime é uma espécie de 'deadline' que muda a perspectiva, nos faz pensar até que ponto o homem é de fato livre nas suas escolhas. Esta era a pergunta principal para 'Medea'."("Dziennik", 8 de outubro de 2007)
O espetáculo recebeu críticas entusiasmadas.
"Imagens fascinantes e sugestivas inspiram a imaginação" - escreveu Eva Maria Klinger sobre a peça. - "O fato de não ser necessário esclarecer a trama, torna-se aqui uma vantagem. Por trás das frases lacônicas, ficam escondidos os horrores: traição, infanticídio, destruição total." ("Wiener Zeitung", 2 de janeiro de 2007, apud: www.e-teatr.pl)
O diretor colaborou mais uma vez com o Burgtheater de Viena em 2007, quando estreou o espetáculo "Lew w zimie" (O leão no inverno) de James Goldman. Baseado na vida de Henrique II, um rei inglês do século XII que governa o país e a sua família, Jarzyna criou um thriller psicológico cruel, cuja ação se desenvolve nos tempos atuais, em um apartamento luxuoso, no meio da elite financeira. Ele retratou a luta pelo poder, amor e sexo acompanhados por uma crueldade dissimulada.
"No centro da atenção do diretor há sempre as constelações interpessoais, rituais suspeitos e visões de uma coletividade decadente" - escreveu Łukasz Drewniak, sobre a obra de Jarzyna. - "Em vez de Deus, Jarzyna coloca o mistério. Em vez do mundo real - um mundo imaginado, produto de algumas "carreiras" de cocaína, alucinações sonolentas e alcoólicas. Seus espetáculos são, em geral, uma mistura explosiva de hedonismo entusiástico e destruição extática, de experiências novas e de uma fadiga causada por novidades que se desgastam vertiginosamente." ("Przekrój", 21 de setembro de 2006)
Masłowska contra Pasolini
No palco do TR Warszawa, Jarzyna continuou a trabalhar com o drama contemporâneo. No espetáculo "T.E.O.R.E.M.A.T.", baseado em Pier Paolo Pasolini (2009) - bastante maduro, como notaram os críticos – ele colocou questões acerca da espiritualidade do homem contemporâneo, a qual frequentemente se revela com maior intensidade em situações extremas. Neste espetáculo sugestivo, apenas poucas palavras são pronunciadas.
"O diretor polonês toma a visão de Pasolini como sendo a sua. Ele compartilha a convicção de Pasolini sobre a desvalorização da palavra na cultura contemporânea e o valor do silêncio – apontou Jacek Kopciński – e, ao mesmo tempo, ele imita a sua poética, reforçando, de modo consciente, o efeito da convencionalidade da mensagem teatral. Em consequência, o seu espetáculo torna-se ainda mais alegórico que o filme do mestre." ("Teatr" 4/2009).
O espetáculo foi exibido em Wellington, Dublin, Londres e Belgrado, assim como no Festival UCLA Live em Los Angeles. Pelo espetáculo "T.E.O.R.E.M.A.T.", Jarzyna foi premiado pela segunda vez na sua carreira com o Prêmio Konrad Swinarski (2009; dez anos antes ele recebeu o prêmio pela encenação de "Ivona,.." e uma peça de Brad Fraser). No seu trabalho seguinte, o diretor trouxe uma reflexão acerca da realidade polonesa, sua identidade nacional, complexos e aspirações. Em 2009, elaborou uma interpretação cênica de "Między nami dobrze jest" (Tudo bem com a gente) de Dorota Masłowska (coprodução com Schaubühne am Lehniner Platz em Berlim). A peça, em tom de farsa, revela tons de seriedade, sem perder a linguagem original de Masłowska.
Recentemente, o diretor retornou ao mundo clássico.
"Eu senti uma certa insatisfação após "Medea" em Burghtheater vienense - admitiu - pois, as tragédias clássicas são uma infinidade de temas que ressoam na contemporaneidade. Os arquétipos de nossas posturas e de nossos comportamentos, que não mudaram apesar das mudanças no tempo, religiões e civilizações. Por isso não quero me despedir do período clássico. Quero aprofundá-lo." ("Rzeczpospolita", 21 de dezembro de 2010).
Em 2010, no Schauspiel Essen, dirigiu o espetáculo "Areteira" (coprodução com TR Warszawa; o espetáculo foi criado como parte do projeto "Odisseia Europa", que teve lugar no Vale do Ruhr – Capital Cultural Europeia do ano 2010). O espetáculo inspirado na "Odisseia" de Homero e "Powrót Odysa" (A volta de Ulisses) de Stanisław Wyspiański, explora as relações de Ulisses com o seu pai e o seu filho mas, principalmente, toca na dimensão religiosa da vida humana. Jarzyna fala sobre o sofrimento humano e a fatalidade do destino também na peça "Fedra", de Jean Racine - densa e muito bem protagonizada, realizada em Toneelgroep em Amsterdã (2010). O diretor retorna à ópera com sucesso. Na ópera Bayerische Staatsoper em Munique, encenou as duas peças de um ato "Dziecko i czary" (A criança e os feitiços) de Maurice Ravel e "Karzeł" (O anão) de Alexander von Zemlinsky (2011). Brincando com a magia teatral, o diretor criou um belo conto de fadas sobre o poder da imaginação.
"A sua encenação é dotada de um ar de "Sonho de uma noite de verão" de Shakespeare e de um apelo aos espectadores para se deixarem levar - assim como os personagens da comédia - pela magia. E então, talvez possam se transformar em uma outra pessoa, pelo menos por um momento - escreveu Jacek Marczyński. - Jarzyna não é, porém, idealista. Ele sabe que os sonhos podem ter um final trágico, o que sugere a segunda parte do espetáculo. É também uma conto de fadas, mas muito mais cruel." ("Rzeczpospolita", 1 de março de 2011).
Vampiros no palco nacional