Anna Karasińska nasceu em 1978 em Łódź, uma cidade que no passado concentrou um grande número de fábricas e que não fica distante da capital Varsóvia. Muitas vezes descrita como a Detroit da Polônia, é repleta de zonas industriais abandonadas, construções desmoronadas e possui uma cena artística bastante ativa. É também a cidade onde fica a famosa Escola Nacional de Cinema.
Łódź é uma cidade onde o passado está presente. As pessoas conversam abertamente e têm um senso de humor pesado e peculiar. Não é nada parecido com Varsóvia, que pode ser uma cidade bem pretensiosa.
Quando criança, ela passava o seu tempo entre a cidade de Łódź e as florestas vizinhas onde, entre outras atividades silvestres infantis, dominou a perigosa arte de colher oxicocos. Sua mãe trabalhava como enfermeira em uma casa de repouso e, como consequência disso, ela "passou a desenvolver uma consciência da morte e da inconstância desde muito jovem... e isso realmente me afetou fortemente".
Após terminar o ensino médio, que ela descreveu como uma fase de “existencialismo tortuoso”, Karasińska ingressou na Escola de Arte, enquanto paralelamente estudava filosofia na Universidade de Łódź. Depois da graduação, decidiu continuar estudando na Escola Nacional de Cinema onde concluiu o curso de direção e realizou o seu filme de diplomação: "Obowiązki" (Deveres).
Após terminar o seu filme de diplomação, passou a se interessar pelo teatro e começou a participar de ensaios. Foi a partir daí que começou a observar pela primeira vez, e com profundidade, o processo de fazer teatro .
Eu vi o processo de experimentação que acontece durante os ensaios, e eu senti um “clique” dentro de mim. Eu percebi que sempre fui mais interessada no processo do que no resultado final.
Em 2015, ela recebeu uma oportunidade de realizar um projeto no teatro TR Warszawa, no âmbito do programa Teren TR com curadoria de Roman Pawłowski, juntamente com um grupo de performers amadores. Isto se desenvolveria no seu projeto posterior "Ewelina chora" (Ewelina płacze).
Uma das pessoas jovens que eu estava trabalhando veio do banheiro ao camarim e comentou sobre o quão maravilhoso era ir ao banheiro no mesmo local em que todas as grandes estrelas haviam ido. Este foi um momento de revelação para mim, e "Ewelina chora" surgiu a partir deste comentário.
Ela começou a fazer improvisações com o seu grupo, pedindo a eles que descrevessem as vidas dos atores famosos da forma que eles as imaginavam. Ela gravou as fantasias hilárias do grupo e escreveu um texto utilizando a lógica do absurdo. Quando terminou, deu o texto para os atores profissionais do teatro para que as interpretassem. Na peça final, os atores tentam interpretar eles próprios como eram imaginados pelas outras pessoas em uma bem humorada, mas também dolorosa desconexão entre as fantasias dos outros e a verdade privada – enquanto o público e os atores se esforçam para perceber a diferença.
Escrevendo na Gazeta Wyborcza, Witold Mrożek escreveu sobre a peça: "Ewelina chora" é uma peça construída com noções do teatro mágico, sonhos de uma carreira de ator e uma consciência da hierarquia arbitrária do mundo da arte. Karasińska encena com as diferentes camadas de ficção, zombando do culto à estrelas e o seu entorno – esse universo sempre badalado de glamour avant garde."
A peça também é profundamente existencial e preenchida com um anseio de conectar um ao outro.
Sou fascinada pela ideia de que realmente não existe uma realidade concreta. Especialmente quando se trata do “eu”. É por isso que uso tanto o absurdo no meu trabalho. Eu também sou extremamente interessada na situação do encontro que acontece no teatro. Eu quero encontrar o público e os atores em tempo real.
Com o sucesso e valorização de sua peça, parece que Anna encontrou uma nova casa no teatro.
Tradução: Rafael Dantas
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