No outono de 2016, Wojtek Kostrzewa realizou uma residência artística de dois meses, organizada pelo Instituto Adam Mickiewicz, na galeria Pivô em São Paulo. Pivô - galeria privada que se destaca por uma atuação dinâmica - tem sua sede no Edifício Copan, projeto famoso de Oscar Niemeyer do ano 1966.
"A vivência no mundo atual força-me a me referir, no meu trabalho, à realidade política, econômica, ideológica, assim como ao simples decorrer da vida, cheia de paradoxos. Com frequência faço referências à história da arte, analisando relações entre discursos tradicionais e novos. Trabalho com diferentes tipos de objetos e mídias, mas é o conteúdo que impulsiona a procura da forma" - escreve o artista sobre o seu trabalho.
Uma das pessoas que Kostrzewa conheceu em São Paulo e com quem travou um diálogo foi o artista brasileiro Marcelo Cidade. O resultado das atuações em conjunto foram duas intervenções efêmeras no espaço urbano. A primeira delas, intitulada "Possibility of dialogue", foi concebida como fruto da observação de pregadores urbanos que, proclamando suas crenças, ficam no meio dos quadrados pintados no chão.
"É possível encontrar muitos deles falando às pessoas simultaneamente. Cada um deles apresenta sua própria narração, mas nunca estabelecem um diálogo" - continua o artista.
Conversa de Wojtek Kostrzewa com um artista brasileiro Marcelo Cidade
Kostrzewa, traçando os quadrados em várias partes da cidade, sempre os colocava um ao lado do outro, de maneira que tivessem uma parte em comum. O seu trabalho representava a possibilidade de conversa que, afinal, nunca foi iniciada. São Paulo é uma cidade em que existem dois mundos paralelos - o dos privilegiados e o dos excluídos. Por entre os edifícios de algumas dezenas de andares e prédios comerciais, ficam espalhados os assentamentos dos sem-teto e squats. As desigualdades são tão grandes que parece impossível conseguir um entendimento entre eles.
"O desenho referente ao diálogo foi apagado na superfície da calçada pelos pedestres que passavam por cima dele e pela poeira da rua" - acrescenta Kostrzewa.
Seu segundo trabalho, "Current direction", fazia referência à arquitetura de São Paulo – um enorme labirinto de concreto que sofre constantes transformações e reconstruções e em que é muito fácil se perder.
"Enchi um buraco da calçada de concreto e coloquei nele um compasso. O trabalho foi uma tentativa de reverter a lógica de grande escala. Foi o menor e o mais imóvel ponto fazendo referência à totalidade do terreno, um signo deixado no meio da cidade. Alguns dias após a instalação do compasso, voltei àquele lugar e percebi que alguém tinha o removido. A circulação dos objetos entre as pessoas é também um dos elementos desse trabalho".
Em colaboração com Clara Ianni, Kostrzewa registrou, por sua vez, alguns acontecimentos e interações aleatórias que no futuro se tornarão matéria de um filme. "Alternadamente, entrávamos em interação com diferentes situações com as quais nos deparamos durante um passeio pela cidade e filmávamos um ao outro" - diz o artista numa conversa com Culture.pl.
Em 2017, será publicado um livro fotográfico "Our cities were built to be destroyed", o qual Wojtek Kostrzewa também trabalhou durante a sua residência.
"Ele é composto de algumas dezenas de fotografias tiradas ao longo do ano passado e trata de arquitetura, entropia, reconstrução constante, reorganização. É também um olhar de arqueólogo para os dias atuais. As fotografias que o integram serão um ponto de partida para o trabalho com novas instalações e formas esculturais" - diz o artista numa conversa com Culture.pl.
Elaboração: Agnieszka Sural, 29.03.2017, tradução: Magdalena Walczuk
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